O Senhor dos Anéis e o Web-evangelismo

Jehozadak A. Pereira

Torcendo e retorcendo a Verdade
Judas 3

Sou um ávido e contumaz leitor de tudo o que circula no mundo literário. Leio de tudo, guardo tudo, coleciono tudo. Por conta disto, tornei-me um pesquisador e creio possuir uma biblioteca esotérica que muito esotérico por aí não tem. Por outro, creio na liberdade individual e coletiva de expressão, onde cada um pode afirmar o que quiser e, sem duvida alguma, responder por seus atos e atitudes.

Penso também que gosto não se discute, por isso se chama gosto. Outras coisas que não se discutem são política, futebol e religião, não necessariamente nesta ordem ou desordem como queiram alguns.

A minha curiosidade e insônia levou-me outro dia ao site www.uol.com.br/bibliaworld/, onde o artigo O Senhor dos Anéis - Porta Escancarada para o Web-evangelismo de Marcelo Gioia Oliveira me chamou a atenção. Melhor teria sido se não tivesse lido o artigo. O autor, com o pretexto de tecer boas a J. R. R. Tolkien e sua obra, saiu do texto e se perdeu no contexto, sem conseguir mais se achar até o final do seu arrazoado.

No começo do artigo ele faz uma simplista explanação do que é "mito", usando para isto a definição do Dicionário Aurélio. Sem querer fazer aqui uma "guerra" de dicionários, vamos ver a definição de "mitos" de acordo com GREEK-ENGLISH LEXICON OF THE NEW TESTAMENT AND OTHER EARLY CHRISTIAN LITERATURE editado por Bauer´s, Arndt & Gingrich, o termo grego mythos significa: "conto, história, lenda, mito, ou fábula".

É também utilizado para expressar um falso ensino, como no caso de Tito 1:14.    O NOVO DICIONÁRIO DA BÍBLIA, editado por J. D. Douglas, define o termo fábula do seguinte modo: "Essa palavra é a transliteração do termo latino que deriva de fari, 'falar'. É mais comumente empregado para descrever uma história pitoresca, ainda que fictícia, freqüentemente satírica em seu caráter, contada para impressionar o ouvinte com uma verdade salutar, ainda que nem sempre bem recebida.

Por esse motivo, a história de Jotão sobre o rei das árvores - Juízes 9, e a história do cardo e dos cedros – II Reis 14:9, no sentido mais estrito, são 'fábulas', ainda que não sejam descritas como tais. A primeira é uma sátira contra a insensatez da escolha de um rei inadequado, e a última é uma repreensão contra Amazias por causa de sua presunção".

No Novo Testamento, 'fábula' traduz o termo grego mythos. Esta palavra é usada para descrever uma narrativa que não é fabulosa somente no sentido de ser fictícia, mas também porque é enganosa, visto haver sido inventada por um mestre falso com o propósito de iludir aqueles que a ouvem em contraste com a verdade revelada.

As 'fábulas', mencionadas em I Timóteo 1:4, eram provavelmente lendas baseadas em narrativas do Antigo Testamento, pois são descritas, em Tito 1:14, como "judaicas". Tais fábulas são ridicularizadas em I Timóteo 4:7 pelos epítetos 'profanas e de velhinhas caducas'; eram ímpias por não estarem baseadas na revelação divina; e só prestavam para mulheres velhas.

Em II Pedro 1:16, o autor se refere a 'fábulas engenhosamente inventadas' que não eram seguidas pelos mestres cristãos genuínos. Essas histórias fantasiosas, possivelmente criações dos primeiros mestres gnósticos, que produziram os Evangelhos apócrifos, são, aqui, contrastadas com o verdadeiro relato sobre a transfiguração de Cristo, segundo transmitido por Pedro".

O UNGER´S BIBLE DICTIONARY, editado por Merrill Unger, registra a seguinte consideração: "No Novo Testamento o termo 'fábula' é utilizado para descrever 'invenção, falsificação ou falsidade' II Pedro 1:16. 'As ficções dos teosofistas e gnósticos judeus, especificamente no que concerne às emanações e ordens dos 'aions' - ou aeons, ou seja, espíritos do ar, também denominados 'mitos' I Timóteo 1:4; 4:7; II Timóteo 4:4; Tito 1:14.   

O Dr. Charles C. Ryrie, comenta em sua obra A BÍBLIA ANOTADA, que "fábulas são lendas de caráter mitológico, acrescentadas à história do Antigo Testamento e que devem ter levado a ensinos gnósticos sobre emanações vindas de Deus para a criação".

Mas, tornemos ao nosso assunto. A Bíblia nos fala que todos pecaram e carecem da glória de Deus – Romanos 3:23. Inclusive os adoradores, adeptos e fãs de Tolkien e sua obra. Nisto, eu concordo com o articulista.

Mas, porque eu estou dizendo tudo isto? Recentemente, escrevi o artigo O Senhor dos Anéis - www.uol.com.br/aleluia/artigos/jehozadak/2001/jehozadak_10.htm e, por conta deste artigo, recebi quase 100 e-mails de ardorosos devotos de Tolkien. Não preciso dizer que se alguns deles me encontrassem chegariam às vias de fato comigo, tudo porque "ousei" mostrar que na obra de Tolkien existem seres mitológicos, esoterismo e contaminação espiritual.

Citei também no artigo as preferências religiosas de Tolkien – um católico apostólico romano devoto – segundo palavras do próprio Tolkien. Fui xingado, inclusive por alguns que se dizem crentes, de tudo o que vocês leitores possam imaginar.

Com alguns, tentei seguir o conselho do Marcelo Gioia Oliveira e e-vangelizá-los. Quando falei que eles precisavam de Jesus Cristo e de salvação para as suas vidas, obtive simplesmente como resposta o silêncio absoluto de todos eles.

Ao torcer e retorcer a sua vontade e o seu gosto, o articulista tenta, de todos os meios, fazer com que as coisas muito estranhas dos livros sejam retratadas no filme e que se pareçam com verdades divinas. Para isto, coloca algumas opiniões elogiosas a Tolkien, como se isto fosse o suficiente para corroborar e "abençoar" ou mesmo "santificar" os escritos do "professor" como o chamam seus adeptos.

Os adeptos se vestem como retratado nos livros, falam uma "língua" que foi inventada por Tolkien, adotam os nomes dos personagens da saga, dizem-se cidadãos dos cenários sugeridos no enredo e por ai afora. E, sobretudo, xingam e destratam quem "ousa" criticar, seja os livros seja o filme. Um dos que experimentaram a fúria, foi o critico de cinema Renato Martins. Os leitores podem ler os comentários e a raiva no www.valinor.com.br/valinor/default.asp . Qual foi o erro do critico? Dizer que o filme não o agradou.

Comparar Tolkien com as verdades bíblicas e dizer o absurdo que se pode fazer a transição de um – Tolkien - para outro – O Evangelho -, é desconhecer as verdades bíblicas, é desprezar e relegar a último plano as verdades celestes. O Evangelho não precisa de "pontes", "istmos", ou seja lá o que for.

Com apenas um, dos muitos que me escreveram, estabeleci contato e trocamos alguns e-mails. Discutimos amigavelmente, e quando toquei na necessidade de que ele se posicionasse ao lado de Jesus, ele me perguntou se para ter Jesus ele precisava abandonar Tolkien. Disse a ele que não é possível a um redimido servir a dois senhores. A resposta dele? Preferia ficar com Tolkien. Mandei-lhe alguns e-mails e não obtive jamais resposta. Silêncio absoluto. Creio que ele preferiu ficar com o mundo fantástico da Terra Média.

Dizer aos adeptos de Tolkien que há semelhanças entre a obra deste e o Evangelho de Jesus Cristo é enganá-los, é dar a eles argumentos que não possuem, é proporcionar-lhes esperança numa coisa perdida de antemão. Os adeptos de Tolkien, na sua maioria, aceitam discutir os escritos do professor, desde que seja do ponto de vista enviesado deles. Para eles, um ponto ou uma vírgula somente é aceito se for sob o prisma de Tolkien, e destratam a tantos quantos se lhes opõem.

Se Deus se faz presente nas obras de Tolkien, como afirma o articulista, o faz de uma forma bem escondida, mas tão escondida que somente com os olhos do fanatismo é possível Vê-lo.

Quanto ao Marcelo Gioia Oliveira, ele precisa se decidir: ou fica com Tolkien ou com Jesus Cristo. Quem serve a dois senhores, serve ao senhor do mal. Ao fazer a defesa de Tolkien, ele se equipara aos devotos religiosos que adotam a obra tolkieniana como modelo.

Hoje, vemos no meio da igreja, um número cada vez maior de crentes envolvendo-se com o misticismo, inclusive pastores que dizem haver separação entre fantasia "boa" e fantasia "má". Um horror!

Tenho visitado sites, tanto das obras de Tolkien, quanto das de Lewis e Rowling, e todos eles são unânimes num ponto: aceitam somente elogios aos seus adorados. Críticas eles rebatem com selvageria, com arrogância, com destempero, com desprezo, ainda que as coisas de Deus.

Que eles precisam de Deus é inquestionável. Todos os pecadores perdidos precisam de Deus e mais ainda, precisam ser evangelizados urgentemente. Isto é imperativo. Não há discussão neste ponto. Mas, dizer que é possível encontrar Deus em O Senhor dos Anéis – o filme ou o livro - é de um absurdo inquestionável, chega a ser estúpida e grostesca esta idéia.

Tive a oportunidade de assistir o filme, e dizem que retrata fielmente o livro, Também li o livro, e posso afirmar que nem com boa, nem má e nem mesmo com toda a vontade do mundo é possível ver Deus em O Senhor dos Anéis. Afirmar isto – que Deus está em O Senhor dos Anéis - é ignorância ampla, geral e irrestrita da Palavra de Deus.

Como Deus poderia estar no meio de elfos, magos, feiticeiros, monstros de todos os tipos? Como poderia o Jeová onipotente e dono de todas as coisas conviver numa confusão espiritual, ou melhor, numa deturpação espiritual?

Querer ver Deus em o senhor dos anéis é tentar tapar o sol com uma peneira.

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