Matrix: A revolução nos lares mais caretas
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Por Andres & Fiks |
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Já são sem número as análises de como Matrix
se transformou em nova mania entre jovens e marmanjos. Mesmo assim é
difícil impedir mais uma tentação de psicobaboseira. Aí vai! Matrix, assim como épicos (as famosas trilogias) mais
recentes de super-heróis em bandos, celebram a família. Não a família
tradicional, mas uma nova formação, em que cabem amigos, estranhos sem
papéis definidos, exceto a promessa implícita de fraternidade. Assim foi em Stars wars, tanto quando os bruxinhos de Harry
Potter, os valentões e sentimentalóides de O senhor dos anéis
e mutantes em X-men. A essência de todas estas séries é a
aceitação de aberrações, do diferente, em comunidades liberais e messiânicas.
O sentido aponta para a manutenção da espécie humana, mas o meio (a
aventura) é a confirmação que, sem uma família, não há garantia da
evolução. Um dos segredos de Matrix foi a surpresa, um dos anúncios do
novo século. Ninguém se dava conta da revolução deste filme repleto de
trucagens artesanais, giros de câmera, lutas flutuantes e decomposição
de imagens. Mais ainda, Matrix é uma descarada sedução em torno
de um herói em potencial. Mais uma prova de que a revolução se faz com
a revisão de uma ordem anterior que não deu certo. Neo é um ermitão que não acredita mais na
humanidade. Convocado pelos últimos lutadores em nome da liberdade
humana, ele titubeia até se arriscar por um novo. Nada tem a perder. Neo
hesita muito pouco para ocupar o lugar do líder salvador para quem vivia
isolado e descrente. Aprendeu, talvez, com Mad Max, um vingador
solitário que aceita o cargo de líder em uma comunidade pós-apocalíptica. Neo atrai, porque é comum. É escolhido pela turma como qualquer um de
nós, mortais poderia ter sido. Ele é um funcionário de uma empresa
qualquer, de existência banal. Passa a ser especial quando começa
escolher, inicialmente entre duas pílulas. O resto é história do
cinema. A partir do risco, do novo, de uma nova visão do mundo o protagonista
e herói experimenta o poder. Sua vida passa a ter sentido. E que sentido!
Vôos e lutas após árduo treinamento. E quem não o faria? Neo, de ordinário
se transforma em "O" herói. Não é por uma picada de aranha,
ou herança de outros planetas. Neo só pode ser importante após sua
escolha e submissão. Mais uma vez o espectador se identifica com um possível. Agora queremos mais. Este ano cinematográfico é de Matrix.
Deus acabou, mas a sagrada família não. Queremos ver a nova e original
reunião de heróis, totalmente humanos e completamente superpoderosos
derrotar as máquinas que aprisionaram o resto de nossa espécie em nossa
alienação e imbecilidade. Matrix ensina que pensar é essencial. Neo teve de
refletir para aceitar conhecer a verdade. Faz sua escolha e aprende a
pagar o preço. A filosofia do filme pode ser questionável (como um
descrente em deuses pode tão rapidamente se transformar em um?), mas Matrix
ensina que filosofar é válido. O conceito de família tem se modificado pelas experiências modernas,
especialmente nas sociedades mais liberais que viveram a contracultura.
Mesmo assim, são poucos os que negam que a irmandade traz conforto. Esta
é desejada e fomentada pelo cinema. Como explicar de maneira diferente o
sucesso das sagas citadas acima? Matrix foi o primeiro DVD a bater a venda de um milhão
de cópias em um mercado ainda incipiente. Em seu rastro, veio o
documentário Os segredos de Matrix, também sucesso que
coroa a adoração pelo original. O filme é especialmente um fenômeno
doméstico, possivelmente mais do que em cinema. Milhões de espectadores
querem ter a turma perto, à vista, na estante. Assim como a própria e
protetora família. Matrix foi concebido como trilogia, mas não ficará
nisto. A família foi recriada, todos querem mais. Neo não é o herói de
um mundo que acabou. Aquela espécie de vida que ele vivia é a possível
do agora. Neo é o herói do presente, aquele que pode trazer aventura e
importância a uma existência comum neste início do século XXI. Não esqueçamos também, aquela realidade virtual é a nossa
realidade, estamos no enigma do não ser, deixar de ser, medíocres heróis,
valentes covardes, belos feiosos, atuais e virtuais, humanos enfim. Solitários
a procura de Neo (dentro e fora) de nós. Viver sem isto seria insuportável. |