Líder católico
conservador critica ecumenismo do papa
Seg, 02 Fev -
20h18
Por Philip
Pullella
ROMA (Reuters)
- O líder de uma facção conservadora católica disse na segunda-feira que o
papa João Paulo 2o deixará um triste legado, por causa de sua abertura a
outras religiões, o que deixou a Igreja "como um barco com um furo".
O bispo suíço
Bernard Fellay, dirigente de um grupo que reúne 1 milhão de católicos e não
reconhece as reformas do Concílio Vaticano Segundo (1962-65), disse também que
considera impossível uma reconciliação entre sua facção e o Vaticano.
"A Igreja Católica não é um barco em uma tempestade, é um barco com um
furo", afirmou Fellay, um dos quatro bispos excomungados em 1998, quando
foram nomeados, sem o aval pontifício, pelo falecido arcebispo Marcel Lefebvre.
Os
tradicionalistas, reunidos sob a Irmandade de São Pio 10o, se opõem à
modernização do catolicismo tal qual proposta pelo Concílio Vaticano Segundo,
que promoveu o diálogo inter-religioso e substitui a missa em latim pelas línguas
vernáculas.
Fellay,
sucessor de Lefebvre, fez suas declarações em uma entrevista coletiva em um
hotel perto do Vaticano, para apresentar um documento de 50 páginas em que os
conservadores analisam os 25 anos de pontificado de João Paulo 2o. O livreto
diz que o ecumenismo (cooperação entre as várias igrejas cristãs)
"transformou a Santa Sé, que é a Igreja, em uma cidade em ruínas".
O texto acusa
o papa de ter "modificado a ordem desejada por Deus" quando se
aproximou de outros cultos cristãos. Os tradicionalistas dizem que a modernização
da Igreja é a fonte de vários problemas, como o afastamento de muitos fiéis.
Um dos
tradicionalistas católicos mais conhecidos é o ator Mel Gibson, mas não se
sabe se ele é membro da Irmandade de São Pio 10o. "Nós não provocamos o
desastre na Igreja, estamos tentando consertá-lo", disse Fellay. Ele
acusou o Vaticano de agir "de forma tirânica" contra aqueles que
tentam retomar os valores tradicionais. Ele também lançou farpas contra o
cardeal Walter Kasper, chefe do Departamento da Unidade Cristã do Vaticano.
"A Igreja está mais interessada na unidade cristã do que na sua salvação",
disse Fellay.
Embora esses
tradicionalistas sejam uma gota no oceano de mais de 1 bilhão de católicos, o
papa manteve o diálogo com eles, na esperança de trazê-los de volta ao seu
rebanho antes de morrer. Mas Fellay disse a jornalistas que as negociações com
o Vaticano estão "efetivamente paradas".
O papa ainda
permite o uso limitado da chamada Missa Tridentina, que deve seu nome ao Concílio
de Trento (século 16). Mas, para isso, a Santa Sé exige a autorização das
dioceses locais.
No ano
passado, o papa (na qualidade de bispo de Roma) autorizou pela primeira que um
cardeal do Vaticano oficiasse a missa em latim para conservadores na basílica
de São Pedro, uma medida vista como mais um aceno de paz para a facção
rebelde.