Argentina investiga mistério das "balas cósmicas"
Sexta, 13 de fevereiro de 2004, 18h23
Numa região
remota da Argentina, cientistas tentam desvendar um mistério dos céus usando vários
observatórios espalhados por uma área 10 vezes maior que Paris. Pesquisadores
brasileiros, argentinos, norte-americanos, entre outros, colocaram centenas de
dispositivos que lembram discos voadores, numa área de 3 mil metros quadrados,
para vasculhar o céu, em busca de misteriosos, raros e poderosos raios cósmicos
que bombardeiam a Terra.
As partículas
subatômicas - que carregam mais energia que qualquer outra partícula conhecida
no universo - são um dos grandes mistérios da ciência. Determinar o que move
estas partículas, conhecidas como "balas cósmicas", pode desafiar as
leis da física e a teoria da relatividade. "Pode fazer Albert Einstein se
revirar no túmulo", disse Carlos Hojvat, astrofísico que dirige o projeto
financiado por vários países, incluindo o Brasil, a Argentina e os EUA.
"Chamamos esses raios de mensageiros do cosmo. Eles podem nos contar sobre
as origens do universo. Estamos nos limites do desconhecido", afirmou.
A construção
do observatório Pierre Auger, que custou US$ 50 milhões, no oeste da
Argentina, começou em 2000. Naquele ano, o observatório começou a quantificar
partículas lançadas na atmosfera vindas do espaço. Os cientistas não têm
certeza de onde esses pequenos e poderosos raios vêm. O observatório vai
permitir aos pesquisadores detectar cerca de 50 raios por ano.
Alguns
acreditam que eles possam ter tido sua origem na criação do universo, logo após
o Big Bang. Outros acham que eles possam ser emitidos por buracos negros.
Qualquer que seja a verdade, descobrir como esses raios funcionam vai ajudar a
explicar o universo, disse o diretor do projeto.
No Brasil,
participam do projeto a Universidade de São Paulo, a Unicamp, a PUC do Rio de
Janeiro, a Universidade do Rio de Janeiro e as universidades federais
Fluminense, da Bahia e da Paraíba.
Inexplicado
Partículas de baixa energia "chovem" constantemente sobre a Terra,
mas algumas têm energia extremamente alta, e é isso que intriga os cientistas.
"A física não tem uma explicação. Esses raios não deveriam
existir", disse Xavier Bertou, um astrofísico francês que trabalha no
projeto. "Uma das possibilidades é que as leis de Einstein não
funcionem".
A localização
do planalto de Malargue, na Argentina, é ideal para detectar os raios de alta
energia, por ser plana e ter o céu constantemente limpo, além de estar 1.200
metros acima do nível do mar. Até 2006, 1,6 mil "detectores de partículas"
- recipientes redondos cheios de água - estarão espalhados pela área. Há
mais de 200 já em funcionamento, separados por 1,5 quilômetros de distância.
Esses
aparelhos funcionam como sensores. Quando um raio cósmico atinge a atmosfera,
ele interage com as moléculas do ar e causa uma "rajada cósmica".
Quanto mais energético o raio, maior essa "rajada", que é detectada
pelos sensores. Quando um raio é detectado, a informação sobre seu tamanho e
direção é transmitida para um computador. "Podemos detectar um raio de
40 metros dentro do qual a partícula caiu. Podemos ir lá, pôr uma bandeira e
beber champanhe", brincou Bertou.
Pesquisadores
acreditam que o enorme poder dessas partículas possa se reverter no futuro em
uma nova fonte de energia.
Fonte: http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI268023-EI302,00.html