Muita
gente mal informada ou que lê superficialmente as Escrituras, é capaz de jurar
que nelas se menciona apenas um sábado: o sábado da Criação, do Decálogo ou
semanal, ou seja, o sábado que os adventistas guardam.Há pessoas que, ao ouvir
dizer que havia outros sábados, que não caíam necessariamente no sétimo dia
e que eram meramente feriados religiosos anuais dos judeus,
arregala os olhos, assombrada. E os fanáticos (como alguns que temos
encontrado), que não se dão ao trabalho de investigar a Palavra de Deus neste
particular, de forma arrogante e às vezes ofensiva, dizem: Qual, isso é invenção
de adventista...
Mas
o que interessa a quem ama a verdade é a pergunta:
Havia
ou não sábados cerimoniais, completamente inconfundíveis e distintos do
descanso do sétimo dia (semanal, estabelecido no Éden)?Recorramos à Bíblia, que
é a única instância em matéria doutrinária. À Lei e ao Testemunho! Por
exemplo, em Levítico 16:29 a 31, que fala do Dia da Expiação - festa nacional
judaica, extraímos: "... no sétimo mês, aos dez dias do mês, afligireis
as vossas almas, nenhuma obra fareis... Porque, naquele dia, se fará expiação
por vós... É um sábado de descanso para vós..." Aqui
está claramente aplicado o termo sábado a uma festa anual,
que se iniciava invariavelmente no décimo dia do sétimo mês. Portanto
distinto do dia de repouso semanal, porque necessariamente recaía em dia
diferente da semana.
Leiamos
ainda, com cuidado, Levítico 23:24, 27, 32 e 39. Nesse particular, as traduções
de Matos Soares e Figueiredo são mais claras, e seguem melhor o original.
Valamo-nos da versão de Matos Soares: "O sétimo mês, o primeiro
dia do mês será para vós um sábado e uma recordação..."
(v.24). Refere-se à festa das primícias e, embora Almeida tenha traduzido descanso,
no original hebraico está "shabbath"
- erit vobis sabbatum"
- diz a Vulgata, e a expressão correta é reproduzida por grande número de
traduções. Note-se bem que este sábado ou dia de
descanso, do primeiro dia do mês, caía em dia diferente do sétimo.
Nada tinha que ver com o repouso semanal.
Prossigamos:
"Aos dez dias do sétimo mês será dia soleníssimo da expiação... É
o sábado do repouso... afligireis as vossas almas”. (v.27 e 32).
Refere-se também ao dia da Expiação, que se celebrava anualmente, como foi
dito, no 10.º dia do 7.º mês e, portanto, caía em dia diverso do sétimo. E
a Escritura o chama de sábado (shabbath),
dia especial de descanso.
Vamos
adiante, referindo-se à Festa dos Tabernáculos, diz a Bíblia: "... no
dia quinze do sétimo mês... celebrareis a festa do Senhor... o
primeiro e o oitavo dia vos será o sábado, isto é, descanso."
(v.39). Note-se que, neste versículo, no hebraico a palavra "shabbath"
aparece duas vezes, e seria curial traduzi-la "sábado de sábado".
Diz a Vulgata: "... die
primo et die octavo erit sabbatum, id est requies."
É
irrecusável que a Bíblia chama de "sábados" estes dias festivais
que nada tinham a ver com o descanso semanal, ou o Sábado do Decálogo. Estes sábados
cerimoniais estavam no Livro de Moisés e não nas Tábuas
dos Dez Mandamentos, que só menciona o Sábado do Sétimo Dia,
comemorativo da Criação, "porque em seis dias fez o Senhor os céus, a
terra, o mar e tudo o que neles há, e ao sétimo dia descansou". (Êxodo
20:11).
Os
sábados festivais foram instituídos no Sinai, após
a entrega da Lei de Deus (Dez Mandamentos), ao passo que o sábado semanal o
foi na Criação (Gênesis 2:2 e 3) e incorporado na Lei Moral, precedido de um
imperativo "Lembra-te". Não pode haver confusão. Além
disso a própria Bíblia estabelece uma linha divisória entre eles, de modo a não
deixar dúvidas:
"Estas
são as festas fixas do Senhor, que proclamareis como santas
convocações, para oferecer-se ao Senhor oferta queimada, holocausto e oferta
de cereais, sacrifícios e ofertas de libação, cada qual em seu dia próprio;
além dos sábados do Senhor, e além dos vossos dons, e além
de todos os vossos votos, e além de todas as vossas ofertas voluntárias que
derdes ao Senhor." (Levítico 23:37 e 38)
Repetimos:
sábados anuais de modo algum podem ser confundidos com Sábados . Há um
abismo entre eles, que nem as marteladas de uma dialética torcida conseguem
transpor. Para nós basta a clara distinção que a Bíblia faz. Mas para os que
gostam de comentários, vamos citar alguns; dos mais insuspeitos:
J.
Skinner,
abalizada autoridade evangélica, reitor do Colégio de Westminster
(Cambridge), anota: "O nome sábado podia ser aplicado a qualquer época
sagrada como tempo de cessação de trabalho e assim é usado com relação
ao Dia de Expiação, o qual era observado anualmente,
no décimo dia do sétimo mês. Levítico 16:31; 23:32. Nos livros proféticos e
históricos, 'sábados' e 'Luas Novas' estão associados de tal modo a sugerir
serem ambos festividades lunares. Amós 8:5; Oséias 2:11 e Isaías 1:13."
1
Alfred
Edersheim,
escritor de nacionalidade judaica, convertido ao protestantismo,
profundo conhecedor da lei Cerimonial, referindo-se à festa dos Tabernáculos,
diz: "O primeiro dia da festa e também o oitavo (ou Hzereth)
eram dias de santa convocação e eram também um sábado, mas não no sentido
do sábado semanal, senão de um festivo descanso diante do Senhor em que
nenhuma obra servil de qualquer espécie podia ser feita." 2
O
mesmo autor, falando do Dia da Expiação, diz: "... o Dia da Expiação...
conservando um caráter próprio, pois a Escritura o chama de "um sábado
de sabatismo" (no original) em que... como no sábado semanal, qualquer
trabalho era proibido." 3
Referindo-se
a Festa do Pentecostes diz: "É fácil observar por alusões análogas, no
mesmo capítulo, que não se trata do sábado semanal mas sim
do festival. O testemunho de Josefo, de Filo, e da tradição judaica,
não deixam margem de dúvida de que, neste caso, devemos entender por "sábado"
o 15 de Nisan ou qualquer dia da semana em que o referido dia venha
cair." 4
E,
finalmente, sobre a Páscoa afirma: "O último dia da Páscoa, como o
primeiro, era uma santa convocação e se observava como um sábado." 5
- Segundo o mesmo autor, há evidências em Amós 8:5 de que a Lua Nova se
observava como dia de descanso, ou sábado.6
A. B. Christianini,
Subtilezas do Erro, 2.ª ed., 1981, pág. 121.
1.
J. Skinner, art. "Sabbath." Hasting's Biblie Dictionary,
pág. 807.
2.
A. Edersheim, Festas de Israel, pág. 86.
3.
Idem, pág. 8 e 118.
4.
Idem, pág. 71.
5.
Idem, pág. 72.
6.
Idem, pág. 109.