LIÇÃO 10 – A VERDADEIRA GRANDEZA

Dr. José Carlos Ramos
D.min., é professor de Daniel e Apocalipse

Em que consiste a verdadeira grandeza? Depende do ponto de vista adotado. Se alguém pensa em grandeza na perspectiva do mundo, terá que incluir riqueza, glória, prestígio, poder, ostentação, domínio e coisas desse tipo. Na perspectiva divina, todavia, a verdadeira grandeza se encontra na disposição de servir (Mat. 20:25-27), considerando os outros superiores a si mesmo (Filip. 2:3, ver nota à pergunta 3 da lição). Nesse aspecto, Jesus é o maior exemplo (v. 28); Ele "a Si mesmo Se esvaziou, assumindo a forma de servo, ... a Si mesmo Se humilhou, tornando-Se obediente até à morte e morte de cruz." (Filip. 2:7 e 8). E isso não apenas por um momento, mas em todo o tempo em que esteve conosco; naturalmente hoje, na glória, Ele continua humilde, porque jamais a humildade foi incompatível com dignidade e excelência.

Domingo – O lava-pés

A lição tece um bom comentário sobre o significado soteriológico do lava-pés. Este ato "representa a necessidade contínua de o cristão remover as impurezas que vêm do contato diário com o mundo pecaminoso e sua condenação". Jesus disse: "Quem já se banhou não necessita de lavar senão os pés" (João 13:10). O "já se banhou" é aplicado por ela à "completa purificação que uma pessoa recebe no princípio da vida cristã (batismo)."

Isso tem o seu lado certo, mas não devemos olvidar que o batismo, tanto quanto a participação na santa-ceia, pode não passar de um mero formalismo, inconseqüente e sem maior significado. Alguns mesmo acham que João deparou com esse problema na comunidade onde pastoreava, razão porque, ao escrever o seu Evangelho, não relatou nem o batismo de Jesus nem a santa-ceia, demorando-se mais no sentido de ambos os ritos.

Se as coisas são assim, então as palavras de Jesus em João 15:3 e 4 são bem significativas: "Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado; permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós."

A fé é o segredo de uma vida cristã vitoriosa sobre o mundo e o pecado (I João 5:4 e 5); através dela recebemos a Palavra de Deus e permitimos que ela opere em nosso ser; também através da fé e permanecemos fiéis a Cristo, em comunhão com Ele pelo Espírito Santo. "Estamos seguros enquanto não decidimos voltar as costas a Cristo", diz a lição.

Segunda e Terça – Verdadeira grandeza e Grandeza diferente

Na introdução deste comentário, foi brevemente exposta a diferença entre duas formas de grandezas: uma na perspectiva do mundo, outra na perspectiva de Deus. A segunda alcança autêntica substância na disposição e atitude de Jesus. A primeira é a grandeza intencional de Judas, pálida analogia da ambição manifestada no princípio em Lúcifer, o filho da alva, e que o transformou em Satanás, o adversário de Deus.

Com o capítulo 13, João inicia uma nova seção em seu livro, aquela que os estudiosos identificam como o ministério particular de Jesus à Igreja. Ela se estende até o capítulo 17. O primeiro ensino de Jesus nesta seção foi de natureza dinâmica, profundamente prática: o lava-pés. Por mais que um mestre discorra sobre determinados assuntos,, e por melhor que o faça, é incrível como certos temas deixam de ser incorporados à vida pelos que deveriam aprender. A abnegação, a humildade, o amor desinteressado, etc., constituem alguns deles. Boa parte do ensino de Jesus havia sido sobre a grandeza da humildade. Mas os discípulos continuavam pretensiosos; de alguma forma, todos partilhavam do instinto de Judas, pois, mesmo na hora da santa-ceia, estavam discutindo sobre quem dentre eles era o maior (Luc. 22:24). Simplesmente demonstravam estar despreparados para a obra que teriam que realizar no mundo e, menos ainda, para a posição que cada um ocuparia quando o reino de Deus fosse, ao final, estabelecido (vs. 29 e 30).

Jesus, então, "levantou-Se da ceia, tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-Se com ela. Depois, deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-lhos..." (João 13:4 e 5). Assim, Aquele que iniciara o Seu ensinamento afirmando que são "bem aventurados os humildes de espírito" (Mat. 5:3), encerrava o Seu ministério mostrando como se aplicava esse princípio, especialmente por aqueles que se dizem Seus seguidores.

Que lição! O ato de lavar os pés de alguém era tarefa de escravo, e Jesus o estava cumprindo! Com exceção de Judas, para quem isto foi um escândalo (e dali sairia para trair Jesus, movido pela idéia de que só com um "empurrão" Ele Se tornaria rei messiânico), todos os demais sentiram-se profundamente envergonhados. Em comparação com o Mestre, quão mesquinhos pareciam! Mediante aquilo que Jesus fez, mais o que ocorreu em seguida (a agonia no Getsêmani, Seu aprisionamento, julgamento e morte na cruz) aprenderam finalmente a lição. Jamais se esqueceriam do que Ele disse: "Eu vos dei o exemplo" (João 13:14 e 15).

Quarta e Quinta – Jesus ora por Seus discípulos e "Por aqueles que vierem a crer"

Não haveria maneira mais impressiva de Jesus culminar Seu ministério pela Igreja do que orando por ela (cap. 17). Ele, tendo Seus seguidores ao lado, orou por eles. Voltaria para o Céu, mas eles continuariam no mundo com uma grandiosa tarefa a cumprir: levar aos mais distantes rincões o conhecimento daquilo que Ele faria em favor da raça perdida. Muitos seriam levados a crer pelo testemunho deles, mas, em grande medida, o mundo reagiria ao trabalho dos discípulos com pressões de toda natureza, o que incluiria perseguição e morte. Tinham que ser fortalecidos para aquilo que os aguardava. Então orou por eles, suplicando inicialmente por Si.

Prefiro dividir a oração em quatro partes fundamentais: Jesus orou

  1. por Si mesmo (vs. 1-5)
  2. pelos discípulos de Seus dias (vs. 6-19)
  3. por aqueles que ainda haveriam de crer (vs. 20-23) e
  4. pela Igreja total (vs. 24-26).

Na primeira parte, Ele suplicou para que fosse glorificado e isso com o único intento de glorificar o Pai. São dignos de nota aqui a definição de vida eterna que nos deu (v. 3) e a significativa declaração de Sua preexistência na companhia de Deus.

Na segunda parte, Ele reconheceu que os discípulos eram uma dádiva do Pai, e que Este havia sido fielmente revelado a eles, o que resultara em fé legítima; isso também os levaria, agora, ao testemunho num ambiente hostil e perigoso; suplicou então ao Pai, não para que os tirasse do mundo, mas para que os amparasse e, particularmente, os santificasse na verdade. Santificação na verdade era condição fundamental para o êxito no testemunho.

Na terceira parte, Jesus Se lembrou dos futuros discípulos, aqueles que viriam a crer em resultado do testemunho de discípulos anteriores. Aqui, Jesus suplicou especialmente pela unidade do corpo de Cristo. Em que pese o empenho de alguns tentando fazer com esta parte da oração de Jesus, precisamente aquela em que fomos incluídos, não seja ouvida e atendida pelo Pai, damos graças porque Este já a ouviu e atendeu; podemos ter confiança que a Igreja continuará unida e vitoriosa até o fim.

Finalmente, na última parte, Jesus envolveu Seus seguidores de todos os tempos e lugares. Aqui Ele suplicou que o Seu povo esteja um dia com Ele na glória, e, até que isto aconteça, suplicou que o amor com que o Pai amou o Filho esteja, juntamente com Jesus, em Seus seguidores.

Que oração maravilhosa! Não nos dá ela uma idéia de como Jesus intercede por nós, hoje, no santuário celestial?


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