LIÇÃO 12 – A VIDA PELOS AMIGOS

Dr. José Carlos Ramos
D.min., é professor de Daniel e Apocalipse

Em João, o Calvário é o ponto culminante da trajetória de Cristo, "a hora" de Jesus, o momento de Sua glorificação (17:1). Como tal, o evento substancia o mais sublime paradoxo do evangelho. A cruz é a maior expressão de ódio e amor, de ignomínia e dignidade, de afronta e apreço, de queda e levantamento, de humilhação e sublimação, de fraqueza e força, de injustiça e lealdade, de vileza e probidade, de vulnerabilidade e solidez, de severidade e misericórdia, de aparente derrota e concreta vitória, de perdição e salvação, de morte e vida. Ela efetiva como corretas as palavras de Jesus: "Quem ama a sua vida perde-a; mas aquele que odeia a sua vida neste mundo preservá-la-á para a vida eterna." (12:25).

Igualmente paradoxais são os sentimentos e atitudes humanos ligados à cruz: crueldade e sensibilidade, tristeza e alegria, timidez e ousadia, frustração e consecução, motejos e palavras de simpatia, desprezo e valorização, crassa incredulidade e piedosa fé. O comentário auxiliar, contido na edição do professor, fala da reação humana em termos de aberta deslealdade, fanatismo religioso e oportunismo político (e faz referência a Judas, Anás, Caifás, Herodes e Pilatos), e de fé, busca de significado e calma aceitação de uma grande vitória (e faz referência a Pedro, João, a mãe de Jesus, Nicodemos e José de Arimatéia). Naturalmente, outras pessoas, em ambos os grupos, poderiam ser mencionadas, pois à luz da narrativa dos quatro evangelistas, ninguém pôde permanecer indiferente diante do Calvário; aconteceu lá quando Jesus morreu, e ocorrerá ao final, na Igreja e no mundo.

Domingo – Traído e negado

A lição de hoje aborda a soberania de Jesus em todas as ocorrências ligadas à Sua morte. "Jesus estava no completo controle da situação." Mais que o fato de que não era obrigado a morrer, e precisamente por isto não poderia ser compungido a enfrentar a cruz, Ele tinha plena autoridade sobre os Seus inimigos. Um gesto de Sua parte, e seriam pulverizados. Ou, tal como ocorrera na colina em Nazaré, simplesmente poderia passar por entre eles e retirar-Se (Luc. 4:29 e 30). Em outras palavras, não podiam fazer coisa alguma contra Ele sem que o permitisse. Que foi dEle mesmo a iniciativa do processo que culminou com Sua morte, transparece nas palavras de João 18:4: "Jesus... adiantou-Se e perguntou-lhes: a quem buscais?"

Segundo William Barclay, Jesus revelou, por Sua atitude no jardim, cinco qualidades fundamentais: (1) coragem, (2) autoridade, (3) decisão pessoal de morrer, (4) amor protetor pelos discípulos e (5) completa submissão e obediência ao plano do Pai. (The Gospel of John, vol. 2, págs. 223 e 224).

Todavia, o título "traído e negado" parece fora de lugar. Mais próprio seria "soberania total" ou algo equivalente. O título evoca naturalmente aquilo a que Jesus Se submeteu, respectivamente da parte de Judas e de Pedro. Embora o texto da lição para hoje (18:1-18) faça dupla referência ao traidor e inclua o primeiro lance da tríplice negação de Pedro (vs. 15-18), é feita apenas breve menção de Judas e nenhuma do ignominioso ato de Pedro.

Seria útil, todavia, que o professor gastasse alguns minutos considerando o procedimento dos dois e extraindo lições práticas para a vida cristã. O que Judas tinha em vista ao trair o Mestre? Meramente ganhar um pouco mais de dinheiro? Isto parece improvável, já que a importância resultante do ato era irrisória (alguns calculam que as trinta moedas de prata equivaleriam hoje a dez dólares). Qual era realmente o seu propósito? Uma resposta plausível seria que Judas desejava empurrar Jesus para uma situação crítica que O obrigasse a Se declarar rei e a assumir o trono de Davi; isto, supunha o traidor, poderia trazer-lhe altos dividendos.

Outro pormenor: por que Pedro foi perdoado e reintegrado, e Judas não? Porque a traição seria um pecado mais hediondo que a negação? Não necessariamente. Naturalmente Pedro foi perdoado porque se arrependeu genuinamente, o que não ocorreu com Judas. Mas por que Judas não se arrependeu? Porque havia ido longe demais e para ele não havia retorno. Então, por que não havia chance de arrependimento para o traidor? Qualquer que chega a esta situação é porque cometeu o pecado imperdoável, aquele que é contra o Espírito Santo, e assim foi com Judas. Nesse caso, como foi a trajetória dele, a qual culminou com o pecado imperdoável? Judas resistiu a todos os apelos da graça, e preferiu apegar-se ao seu pecado predileto. Isto resultou em sua ruína eterna.

No que respeita a Pedro, um bom comentário de como ele agiu no momento do aprisionamento de Jesus no Getsêmani é suprido pela lição (ver nota da pergunta 2). Um contraste entre as duas atitudes dele seria proveitoso: o mesmo Pedro que, impetuosamente, lançou mão da espada para proteger a Jesus, depois O negou levianamente (isto toca o ponto 1 da seção "Estudo Indutivo da Bíblia").

Aqui estariam duas feições contraditórias de uma única personalidade. A primeira condiz com o temperamento do apóstolo, mas a segunda demonstra que até mesmo os mais intrépidos trazem em algum ponto do inconsciente certos traços de fraqueza, que se manifestam tão logo as circunstâncias o propiciem. Pedro, pronto a reagir contra qualquer tipo de pressão arbitrária, fraquejou ante a opinião de pessoas simples. Isto por condescender com o que não era correto.

Em seu intuito de acompanhar o que ocorria com Cristo, acabou se ajuntando a pessoas que declaradamente se opunham a Ele. Este foi seu primeiro erro. O segundo, para o qual o primeiro concorreu, foi a dissimulação: ele não assumiu quem era nem o que estava sentindo. O comentário de Ellen G. White a respeito é pertinente: "Pedro não pretendia dar a conhecer sua verdadeira identidade. Ao assumir ar de indiferença, colocara-se no terreno do inimigo, tornando-se fácil presa da tentação. ... Procurou não manifestar interesse no julgamento do Mestre, mas tinha o coração confrangido de dor ao ouvir as cruéis zombarias e ver os maus-tratos que Ele estava sofrendo. ... A fim de ocultar o que na verdade sentia, procurou unir-se aos perseguidores de Jesus em seus intempestivos gracejos [até isto Pedro chegou a fazer!]. Seu aspecto, no entanto, não era natural. Estava representando uma mentira, e conquanto procurasse falar despreocupadamente, não podia suster expressões de indignação ante os abusos acumulados contra o Mestre." (O Desejado de Todas as Nações, pág. 712, ênfase suprida). O disfarce lhe foi fatal. A atenção dos que ali estavam foi chamada para ele, e a negação se tornou praticamente inevitável.

Ellen G. White continua: "Muitos que não recuam diante da luta ativa por seu Senhor, são, em face do ridículo, levados a negar sua fé. Associando-se com aqueles a quem deviam evitar, colocam-se no caminho da tentação. Convidam o inimigo a tentá-los, e são levados a dizer e fazer coisas de que, sob outras circunstâncias, nunca se tornariam culpados. O discípulo de Cristo que, em nossos dias, disfarça sua fé por temor de sofrimento ou ignomínia, nega a seu Senhor tão realmente como o fez Pedro na sala do julgamento." – Ibidem, pág. 712.

Segunda – Perante Anás e Pilatos

O título está incompleto. Deveria ser "Perante Anás, Caifás e Pilatos".

A lição lembra que João não foi barrado à entrada da audiência porque "tinha acesso privilegiado". O próprio Evangelho dá a razão: ele era "conhecido do sumo sacerdote" (v. 15). De onde provinha esse conhecimento? Duas hipóteses são sugeridas: (1) comparando-se dados informativos reunidos dos outros Evangelhos, chega-se à conclusão de que ele era primo de Jesus, e, portanto, igualmente de João Batista, que era filho de um sacerdote, e de uma descendente de Aarão, Isabel, prima de Maria, a mãe de Jesus (Luc. 1:5 e 36). Alguns estudiosos até aceitam como fidedigna a informação de Policrates (190 AD), relatada pelo historiador Eusébio, de que o próprio João havia sido um sacerdote; e (2) outros admitem que, mais provavelmente, Zebedeu, pai do apóstolo, fosse o responsável pelo abastecimento de peixe na casa sacerdotal, o que levaria João, antes de se tornar um seguidor de Jesus, a habituais contatos com os seus membros. Seja como for, o apóstolo era conhecido do sumo sacerdote e isto lhe facultou entrada na sala de audiência.

Anás e Caifás detiveram autoridade suprema em assuntos de religião entre os judeus. O primeiro, nomeado sumo sacerdote em 7 d,C., havia sido deposto em 16 d.C.. O segundo, genro de Anás, era sumo sacerdote quando Jesus foi preso. Funções dessa natureza eram cumpridas sob o arbítrio de Roma, e pessoas empossadas deveriam trabalhar no interesse do Império. Embora Anás, já por mais de 10 anos, não ocupasse oficialmente cargo algum, ainda ostentava o título sumo-sacerdotal em vista de seu prestígio e influência. Por ele foi Jesus preliminarmente interrogado para, em seguida, ser conduzido a Caifás (vs. 12-4 e 19-24).

Ao comparecer diante de Caifás, , na verdade, Jesus respondeu perante o Sinédrio, pois o sumo sacerdote havia convocado para a sua casa o conselho de escribas e anciãos (Mat. 26:57). Este julgamento prévio seria considerado ilegal por ter sido realizado antes do nascer do sol. Portanto, uma segunda sessão, agora em pleno dia, foi convocada (Luc. 22:66), e a formalidade judicial pôde ser cumprida nos conformes da lei.

Notamos, portanto, que Jesus foi preso por razões fundamentalmente religiosas. Os depoimentos e inquirições feitas no Sinédrio não deixam dúvida a respeito. Estes envolviam o templo e a filiação divina de Jesus como Messias (Mat. 26:60-63; Luc. 22:67-70). Em Sua resposta, Jesus empregou o título "Filho do homem", altamente significativo à fé hebréia. Anás, antes, já O havia interrogado acerca "dos Seus discípulos e da Sua doutrina" (João 18:19).

Terça – Recurso político

Desde 20 d.C., o Sinédrio não tinha poderes para condenar um réu à morte. Se deliberada, tal sentença tinha que ter o aval do tribunal romano. Embora esta determinação nem sempre fosse respeitada, e os romanos a isso fechassem os olhos (como no caso de Estêvão [Atos 7:58-60]), com respeito a Jesus, o Sinédrio requereu o juízo de Pilatos, e nisto vemos também a soberania do Salvador. O evangelista afirma que as coisas foram assim "para que se cumprisse a palavra de Jesus, significando o modo por que havia de morrer" (18:32).

Pilatos sentiu de imediato quão difícil lhe seria a tarefa de deliberar sobre Jesus, e tentou eximir-se da responsabilidade de julgá-Lo. A isso, os judeus alegaram não possuir autonomia jurídica para tal (v. 31). Ouvindo, então, que Jesus vinha da Galiléia, viu nisso uma oportunidade de se livrar. O território galileu era jurisdição de Herodes, e para este foi Jesus conduzido. Mas Herodes também não quis tomar uma decisão sobre Ele e O remeteu de volta a Pilatos (Luc. 23:7-12). Não havia escapatória; ele teria mesmo de julgá-Lo.

Percebendo que Jesus era inocente, Pilatos dispôs-se a absolvê-Lo, mas de uma forma a não contrariar os acusadores. Estes entenderam que apenas razões religiosas seriam de pouca força diante do procurador. Então, forjaram também um motivo político para reclamar a sentença. Tentaram persuadir a Pilatos que, como diz a lição de ontem, "Jesus devia ser executado porque Sua realeza era uma ameaça a César." Mas Jesus, diante da autoridade romana, jamais Se afastou do trato religioso. Isso se nota no diálogo com Pilatos (18:33-38; 19:9-11). Declarando-lhe a razão de Sua vinda ao mundo, Jesus, sem dúvida, tentou alcançar-lhe o coração. Pena que o procurador não permanecesse para ouvir do próprio Senhor a resposta à solene pergunta que Lhe fez: "Que é a verdade?" (18:38)

Como Pilatos estava numa "posição de considerável fragilidade política", tornou-se "extremamente vulnerável à chantagem". Com muita sagacidade, empenharam-se em demovê-lo do intuito de absolver a Jesus. Cada expediente usado por Pilatos deparou uma contraversão irreversível, até que não teve alternativa se não condená-Lo (19:15). Como a lição diz, "ele não podia salvar a si mesmo e a Jesus. ... Decidiu salvar a si mesmo e entregar a Jesus".

Pilatos sabia conscienciosamente qual era o seu dever: cumprir a justiça, pois um inocente não poderia ser condenado. Seu mal foi condescender cada vez mais com os acusadores de Jesus até, finalmente, ficar sem alternativa. É simplesmente impossível tomar posição ao lado de Jesus enquanto se condescende com o mal. Não podemos optar pelo dois, tanto quanto não podemos deixar de optar por um dos dois.

A lição lembra que tudo isso resultou num alto preço para os judeus: "Os líderes religiosos confessaram publicamente a sua obrigação de servir a César: ‘Não temos rei, senão César!’" Embora a lição também afirme que "deste ponto em diante, na história do Evangelho, Pilatos ganhou muita força" e que "a morte de Jesus fortaleceu Pilatos", isso seria próprio de sua situação imediata, pois a tradição afirma que ele também teve que pagar um alto preço. Dizem que, tempos depois, e com a consciência a arder, Pilatos foi demitido do seu posto, foi-lhe tirada a autoridade e, sem mais nada, senão o remorso a corroer-lhe a alma, suicidou-se. Se as coisas foram assim, este foi o fim do homem que preferiu amar mais o mundo, a posição, a glória, o prestígio e a autoridade do que a retidão de propósito, de ação e de caráter; de alguém que amava mais a César que a Deus. Quão fatal é a conseqüência de uma decisão errônea que fere o direito e conspurca a integridade!

Quarta – Humilhação, morte e sepultamento

A esta altura, seria interessante uma breve referência à intensidade da dor física e mental de Jesus. A série de humilhações começou quando, no pré-julgamento sob o sumo sacerdote, chegaram à conclusão que Ele deveria ser condenado. "Então, uns cuspiram-Lhe no rosto e Lhe davam murros, e outros O esbofeteavam, dizendo: Profetiza-nos, ó Cristo, quem é que Te bateu!" (Mat. 26:67 e 68).

Levado a Pilatos, Jesus Se submeteria aí a um sofrimento por demais atroz. Foi duas vezes açoitado, uma antes e outra depois de ser condenado. O castigo era infligido às costas nuas da vítima, com um açoite de tiras de couro guarnecidas com pequenos pedaços de metal ou de osso, para tornar o sofrimento mais intenso. As afiadas pontas dessas tiras eram chamadas de escorpião, devido ao efeito que causavam. De fato, o açoitamento era o prelúdio da crucifixão, e havia condenados que desmaiavam e até enlouqueciam.

Depois de açoitado, Jesus, por ser acusado de ter-Se declarado rei, foi coroado com uma coroa de espinhos e vestido com um manto de púrpura (João 19:2); puseram-Lhe na mão um caniço (réplica grotesca de um cetro), "e, ajoelhando-se diante dEle, O escarneciam, dizendo: Salve, rei dos judeus! E, cuspindo nEle, tomaram o caniço e davam-Lhe com ele na cabeça. Depois de O terem escarnecido, despiram-Lhe o manto e O vestiram com as Suas próprias vestes. Em seguida, O levaram para ser crucificado." (Mat. 27:29-31).

Em seguida, foi Jesus conduzido ao local da execução, tendo sido intimado a levar sobre os ombros a cruz, que pesaria pelo menos 50 quilos. Ele estava em jejum e por demais enfraquecido para suportar o peso, e Simão Cireneu foi instado a ajudá-Lo, carregando-a em Seu lugar (Luc. 23:26). No local da execução, Jesus foi despido totalmente, deitado sobre a cruz e a ela pregado nas mãos e nos pés. Alguns entendem que Ele foi também pregado nos pulsos, na área conhecida como espaço de Destot. Um cravo aí fincado atinge o nervo médio que serve todos os nervos sensoriais da mão e causa a mais violenta dor.

Estando Jesus devidamente fixado à cruz, "ergueram-na homens vigorosos, sendo com grande violência atirada dentro do lugar para ela preparado. Isso produziu a mais intensa agonia no Filho de Deus" (O Desejado de Todas as Nações, pág. 745). Acrescente-se ainda a violenta dor de cabeça que certamente Lhe sobreveio em conseqüência da sobrecarga de sangue nas artérias do estômago e da cabeça, a sede intensa, e a febre traumática com possíveis convulsões, que certamente contribuíram em muito para aumentar o Seu sofrimento.

Diante de tal quadro, leiamos, assombrados, o que a inspiração registra: "Sobre Cristo como nosso substituto e penhor, foi posta a iniqüidade de nós todos... Agora, com o terrível peso de culpas que carrega, não pode ver a face reconciliadora do Pai. O afastamento do semblante divino, do Salvador, nessa hora de suprema angústia, penetrou-Lhe o coração com uma dor que nunca poderá ser bem compreendida pelo homem. Tão grande era essa agonia, que Ele mal sentia a dor física!" (Ibidem, pág. 753; ênfase suprida). O sofrimento maior e pior e, por fim, a morte, foram causados por nossos pecados.

A lição ainda se refere ao que Pilatos escreveu no cimo da cruz. Segundo ela, ele o teria feito como "um símbolo do domínio de Roma sobre a Palestina e sua religião". Valia-se já da maior força que obtivera sobre os judeus com a condenação de Cristo (ver parte final da nota da pergunta 5). Questionado pelos sacerdotes quanto ao que a inscrição dizia, Pilatos simplesmente respondeu: "O que escrevi, escrevi" (João 19:22).

Aqui é declarado um princípio por demais importante para que o desconsideremos: nossas ações, uma vez praticadas, não podem ser alteradas. O que escrevi, escrevi! O que fiz, fiz! O que falei, falei!

O registro de nossas ações é fiel e nada se perde. Um dia defrontaremos tudo aquilo que partiu de nós, e teremos que assumir os resultados. Somente a graça divina poderá nos suster, a mesma graça que hoje pode nos capacitar a escolher o que é bom e que trará melhores resultados; principalmente em torno da questão mais fundamental da vida humana, trazida a lume pelo próprio Pilatos no drama do Calvário: "Que farei, então, de Jesus, chamado Cristo?" (Mat. 27:22).

Quinta – O significado da cruz

Atinamos com o significado da cruz apenas quando compreendemos a qualidade da morte de Jesus. Pelo menos seis pontos devem ser considerados:

(1) Sua morte não foi compulsória; foi voluntária, espontânea. Como a lição deixou claro, Ele não morreria se não quisesse.

(2) Sua morte não foi acidental. Em diversas ocasiões, desde o início do Seu ministério, Ele previu que haveria de morrer. Principalmente em João, Jesus caminhou à sombra da cruz. As circunstâncias se desenrolaram de maneira a alcançarem a culminação com o Calvário.

(3) Sua morte não foi a de um criminoso, embora tenha sido condenado por um tribunal. As testemunhas arroladas contra Ele não foram coerentes no depoimento de fatos. Pilatos reconheceu-O inocente e se empenhou por absolvê-Lo.

(4) Sua morte não foi meramente modelar. Ele não morreu apenas para servir de exemplo. Fosse assim e teria ela um valor apenas relativo. Outros também foram injustiçados e morreram em meio a sofrimentos e torturas, com relativa calma e resignação. Jesus seria apenas um a mais a morrer com este objetivo.

(5) Sua morte não foi a de um mártir. Teve, é verdade, feições próprias ao martírio, mas em geral, os mártires enfrentam a morte com galhardia e sentimentos de autonomia e preeminência, o que não ocorreu com Jesus. É-nos dito que ao adentrar o Getsêmani, Ele foi "tomado de pavor e de angústia. E lhes disse: a Minha alma está profundamente triste" (Mar. 14:33 e 34; cf. João 12:27); e na cruz bradou: "Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?" (Mat. 27:46).

(6) Sua morte foi um sacrifício vicário e expiatório. Ele morreu por nossos pecados (I Cor 15:3), tornando-Se assim o Salvador. Foram os nossos pecados que O pregaram sobre o madeiro (Isa. 53:4-8). Todos nós estávamos lá, no terrível dia da crucifixão. "Pesa sobre todos a culpa de crucificar o Filho de Deus" (O Desejado de Todas as Nações, pág. 745). Foi por você e por mim que Ele sofreu o que sofreu. Aquela cruz não era para Ele; era para mim, para você. Ele nunca pecou; nós é que pecamos. Cabia a nós o quinhão da morte; não a Ele. Morreu porque tomou o nosso lugar; tomou o nosso lugar porque nos amou supremamente.

"O significado da cruz." Este título é o mesmo da lição de 15 de janeiro. Tanto aqui como lá, ele é também referido em termos da valorização humana, com citações do Espírito de Profecia. Uma delas: "Um ser humano é de valor infinito; seu preço é revelado pelo Calvário." (Obreiros Evangélicos, pág. 184). A lição de amanhã, sexta-feira, também registra: "Somente à luz do Calvário pode o verdadeiro valor do ser humano ser avaliado" (Atos dos Apóstolos, pág. 273).

Na prática, o que isto significa? Significa que Deus espera do ser humano que "estime a vida assim provida para ele, pelo infinito preço pago". (Nossa Alta Vocação, pág. 38; ênfase suprida). Se um carro custa R$ 50.000,00, dizemos que ele e este preço se equivalem. Assim, tão valiosa quanto Jesus é a nossa vida, pois ela custou Seu sangue, Sua própria vida! É por aí que devemos nos estimar, e assim fazendo, jamais chegaremos à conclusão de que "esta vida é minha e faço dela o que quero", pois nela está envolvido nada menos que o sangue de Jesus. Paulo disse que não somos de nós mesmos; pertencemos a Deus, e cumpre-nos glorificá-Lo (I Cor. 6:19 e 20).

Para tal, não podemos esquecer que nossa vida somente atinge o seu valor, quando Jesus habita em nós, como Paulo declarou: "Cristo vive em mim" (Gál. 2:20). Ele afirmou isto no contexto do Calvário, pois disse antes: "já estou crucificado com Cristo". Esta é a efetivação da verdadeira vida, a qual não consiste, como Jesus deixou claro, "na abundância de bens" (Luc. 12:15) ou de qualquer outra coisa que de melhor o mundo possa oferecer. É por esta razão que Ellen G. White afirma (aparece na lição de amanhã) que "ao ajoelhar-se em fé junto à cruz, alcançou ele [o pecador] o mais alto lugar que o homem pode atingir." – Atos dos Apóstolos, pág. 210.

Concluo com as palavras finais da lição: "Quando nos virmos sob a luz da Cruz, desenvolveremos a força para superar o pecado, a confiança para derrotar Satanás e a alegria que vem de saber quem somos. Não admira que Paulo tenha dito: ‘Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo’ (Gál. 6:14).


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