"Isaías – Consolai o Meu Povo"

Introdução ao Trimestre

Antes de qualquer declaração a respeito das lições, algumas palavras de introdução ao tema do trimestre. Que Deus seja louvado e enaltecido e Seu povo preparado para o encontro com o Senhor nestes últimos dias da História. Que as lições deste trimestre sirvam de alimento espiritual para o fortalecimento da personalidade cristã que deve se tornar cada vez mais idêntica ao modelo a fim de que haja maior diferença entre os que seguem o caminho de Deus, os que constituem Seu povo, e o restante dos que estão perdendo sua identidade seguindo o inimigo no grande conflito dos séculos.

Assim como as lições que estudaremos foram pregadas e escritas para um período crucial na história do povo de Deus no passado, também para nós, que estamos vivendo no período mais crítico da História – que é o tempo que antecede o mais espetacular evento, a volta do Senhor em glória e majestade – o estudo do livro de Isaías é fundamental para o preparo de Seu povo.

Ao nos depararmos com o título da lição: "Isaías – Consolai o Meu Povo" não pudemos deixar de trazer à memória a música maravilhosa do mais conhecido oratório que jamais foi composto pela arte humana: "O Messias" de Haendel. Após a solene abertura orquestral, segue-se o trecho de tenor: "Consolai o Meu Povo". A mensagem dos primeiros versos do capítulo 40 de Isaías é apropriada para a igreja nos dias de hoje:

"Consolai, consolai o Meu povo, diz o vosso Deus. Falai confortavelmente a Jerusalém e clamai-lhe que sua luta (guerra) terminou, que sua iniqüidade está perdoada. A voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai, no deserto, uma estrada para nosso Deus" (Tradução literal do texto do recitativo).

Com razão Isaías é cognominado "O Profeta do Evangelho". Nenhum outro livro do Antigo Testamento traz mais claramente o plano de salvação, preparado por Deus para a redenção do homem. A propriedade de seu estudo para nossos dias é não somente útil mas essencial, para nosso tempo.

Isaías, conforme o início do livro indica, exerceu seu ministério no período final da história do reino de Israel (do Norte) como advertência para Judá (o reino do Sul): cerca de 60 anos (os primeiros 5 capítulos, provavelmente datam de 745 -739 a.C. até 686 a.C.).

Nada sabemos como terminaram os dias de Isaías, além do que diz a tradição. Conforme o talmude Babilônico, ele teria sido morto serrado ao meio por Manassés.

Estamos vivendo, como povo de Deus, no período final da História; portanto, ingressemos no estudo deste livro maravilhoso.

 

 

Lição 1 – Crise de identidade

Devemos nos lembrar de que, antes de assumirem forma escrita, as mensagens foram pregadas pelo profeta, e que o que temos escrito seria um resumo das mensagens proferidas oralmente.

Dois dos primeiros princípios da racionalidade são os princípios de essencialidade e de identidade. Diz o primeiro que tudo o que existe é constituído de uma essência. Diz o segundo que cada ser é idêntico a si mesmo. Quando se trata de pessoas, quando há alteração de essência ou falta de algum elemento nessa essência, há crise de personalidade. Como o homem foi criado "à imagem e semelhança de Deus", a escolha errada desse ser moral livre provocou modificação e perda de elementos essenciais de sua personalidade: livre-arbítrio, inteligência, afeição e forma física.

Conforme as leis da natureza, os animais adquirem características por condicionamento, o que também ocorre com o homem no início de seu desenvolvimento. No entanto, como o ser humano recebeu as mencionadas características divinas de personalidade, Deus esperava que Seu povo pelo menos desenvolvesse essas características por condicionamento, mediante o contato do Criador com a criatura (no início no Éden). A Lição, no entanto, traz um amoroso apelo de Deus ao homem, que tem inteligência, afetividade e livre-arbítrio, mas apresentou um comportamento injustificável, não só do ponto de vista das leis naturais que regem a vida dos irracionais, como do uso da razão.

No convívio humano, os animais aprendem a conhecer o ambiente em que vivem e também o seu dono, com quem têm contato diário. É maravilhoso presenciar as demonstrações de adestramento entre os animais. O que Deus, pela voz do profeta, não pode aceitar é que o homem, a quem conferiu traços divinos de personalidade, se comporte pior do que os irracionais e perca esses elementos, desconhecendo o seu Criador, rejeitando-O e voltando-se contra Ele.

As coisas podem ser reduzidas a um estado de simplicidade quando só se admitem duas possibilidades: ser conforme a vontade do Criador ou divergir dEle. O pecado é injustificável e contém em si o germe da decadência e da desagregação final. Escolher o caminho do pecado é um ato de irracionalidade e, Conseqüentemente, o ingresso no caminho da perda de identidade. O homem deixa de ser semelhante a seu Criador, não sabendo mais quem é.

Os termos com que Isaías apresenta sua mensagem inicial são fortes e veementes. Não usa eufemismos para expressar a verdadeira situação do povo de Deus. É um misto de condenação, advertência e convite ao arrependimento com a promessa de perdão. Aliás, todas as mensagens de Deus são claras em explanar o que ocorrerá se o homem escolher obedecer aos Seus ditames ou se, por outro lado, decidir desviar-se deles. Não há lugar para incertezas.

I. Ouvi, ó Céus

Esta é uma forma de iniciar um oráculo ou mensagem divina como : "Ouvi as palavras do Senhor", ou outras semelhantes. É interessante notar que céus e terra seguem as leis naturais ou a ação de Deus, e são chamados para testemunhar da irracionalidade, da perda de identidade do ser humano, especialmente de um povo que, esperava-se, fosse o povo de Deus. O Universo inteiro é chamado para atestar a pecaminosidade do homem. Deus criou filhos, mas eles se rebelaram contra o próprio Pai que lhes deu origem. Parece que o objetivo do discurso inicial era sacudir a sonolência ou modorra em que o povo se encontrava, como conseqüência do pecado. Muitas vezes Deus, no passado, usou o mesmo estratagema através das mensagens de Seus profetas. É como dizer: acorda, tu que dormes.

Para substituir a essência de uma personalidade autêntica, o homem então cria um substituto: a aparência. Uma forma exterior para apresentar-se diante de Deus e enganar a si mesmo: coser folhas de figueira para esconder sua real situação. No caso de Israel, o recurso foi seguir os rituais prescritos por Deus sem, contudo, haver neles a verdadeira causa, o verdadeiro conteúdo.

II. Ritualismo sem sentido

Quando falta a essência, em geral o homem procura substituir pela forma. Esta, em vez de ter um significado autêntico, acaba sendo um subterfúgio, um escape para a ausência de conteúdo. Deus já acusara o povo, nos versos iniciais, de ingratidão e falta de reflexão. Agora, nos versos 10-15, o Senhor explica que o ritual não substitui a retidão. Formas sem verdadeiros fundo ou essência são sem sentido. É possível até "entregar o corpo para ser queimado" sem contudo possuir amor verdadeiro pelo ser humano. "Isso para nada aproveita", é a mensagem divina. Forma de adoração sem um coração sincero e honesto com Deus é o mesmo que iniqüidade como Sodoma e Gomorra. Comparecer diante de Deus para cumprir um rito não torna o indivíduo espiritual. Freqüentar uma igreja para acalmar uma consciência acusadora não transforma um impenitente em penitente. Assim como as cidades ímpias haviam sido destruídas, o mesmo aconteceria com Israel, se não se arrependesse.

Deus é claro em expressar as razões por que não podia aceitar os ritos praticados por esse culto sem sentido: a maldade no coração humano e sua exteriorização na prática com as mãos manchadas de sangue: violência. Não é exatamente isso que vemos em nossos dias? E vale dizer que não é somente entre os mundanos, como também entre os pretensos filhos de Deus.

Felizmente, em meio a essas expressões de condenação, há algumas de esperança: o caso não está de todo perdido. No verso 9, são mencionados os sobreviventes, um resto, um remanescente que se mantém de acordo com o plano divino como testemunha do bem.

Outro ponto importante é o apelo feito por Deus: "Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade... cessai de fazer o mal". Isso quer dizer que nem tudo está perdido. Aliás, por todo o livro o apelo divino é constante: voltai-vos para Mim. O propósito dos atos religiosos é promover a santificação dos adoradores. Uma das leis básicas da psicologia é que a mente se estrutura de acordo com o ambiente com o qual entra em contato. Isso deveria ser para cada crente uma razão forte para se dirigir ao templo e participar dos ritos sagrados com um coração sincero, humilde e penitente.

O processo de santificação, entretanto, não é natural ao ser humano. É preciso aprender a fazer o bem. Requer-se um processo educativo, inclusão de novos hábitos e atos de justiça. Cada cristão deve ser autêntico, praticando o que diz, e não somente aparentando ser o que na realidade não é. Fazer o que eu digo mas não o que eu faço não traz nenhum resultado positivo para si nem para os outros.

III. O argumento do perdão

A mensagem deste trecho termina com um apelo à racionalidade. A maneira apropriada de corrigir a aparência e voltar à essência de uma vida santa é exatamente o perdão dos pecados e a mudança do interior com a essência de uma nova natureza. Pureza era oferecida através do perdão e um apelo é feito à mais elevada capacidade concedida ao homem: o livre-arbítrio: "Se quiserdes e ouvirdes..."

Deus jamais força a vontade que Ele mesmo concedeu ao homem. Constitui-se, no entanto, um mistério a transformação dessa vontade sem contudo forçá-la. Como Deus opera "tanto o querer como o efetuar" sem coação constitui realmente parte "no mistério da piedade".

A única condição apresentada: Se... então... "Se vos arrependerdes", então "comereis o bem desta terra".

O outro lado da questão também é mencionado: "Se recusardes... então, sereis devorados à espada".

IV. Comer ou ser devorado

Como mencionado antes, a questão é muito simples. Há somente duas possibilidades. Não se trata de milhares de possibilidades que dificultam a vida cristã ou a vida em geral do ser humano. Não há alternativa ou terceira opção: Quem comigo não ajunta, espalha. De um lado está a verdade; do outro... a verdade misturada com o erro. Foi assim desde o princípio. Não é difícil de se verificar a diferença quando a questão é apresentada em seu resultado final. O que é difícil ao homem é escolher entre o certo e o bem, de um lado, e o certo e o bem misturado com um pouco de erro ou mal, do outro.

Quanto mais semelhante ao verdadeiro, tanto mais perigoso é o erro. A fim de tornar isso claro, Deus não deixou o homem em situação de não poder conhecer o bem e o mal. Foi por essa razão que Ele enviou tantas mensagens por intermédio de Seus profetas e mensageiros e o faz ainda hoje. As palavras de Isaías poderia ter caído no esquecimento se apenas fossem pregadas aos ouvidos de seres humanos, muitas vezes desatentos. Mas verdades escritas permanecem. ‘Verba volant, scripta, manent" (Palavras voam, as escritas permanecem). Como filhos de um Pai de amor, quanto deveríamos ser gratos pela Palavra Escrita.

Aqui não existe meio-termo. Deus é santo e não aceita menos do que isso. Ou estamos em ascendência espiritual ou em decadência. Não existe mais ou menos.

V. Trágica canção de amor

Deus agora Se apresenta como alguém apaixonado por sua amada, fazendo todo o possível para conquistar-lhe o amor. A figura da vinha também foi apresentada por Oséias (10:1), Jeremias (2:21; 5:10; 6:9; 12:10) e Ezequiel (15:1-8; 17:3-10). Tudo o que foi possível fazer a fim de que a videira produzisse bons frutos, Deus fez por Seu povo. Esta figura é altamente romântica e deve apelar a seres humanos que também são suscetíveis de serem influenciados afetiva e emocionalmente. Como um rapaz faz declarações de amor e devotamento, Deus também faz a cada ser humano. "Com amor eterno te amei..." O que mais poderia ter sido feito? Cada reclamo da lei divina foi satisfeito, cada exigência de justiça foi efetuada em Cristo na cruz. O que mais falta senão aceitar o convite e se comprometer com este amor?

Outro aspecto a ser considerado é a longanimidade, a paciência, a duração do período de espera por uma demonstração de correspondência a este amor. Por que persistir em andar em nossos próprios caminhos? Por que não deixar de fazer o mal e praticar o bem, quando tudo foi feito para que a situação se revertesse?

O que é mais triste para um agricultor do que empregar toda tecnologia moderna numa plantação e no final "colher uvas bravas?" Deus expressa um sentimento de tristeza e pesar numa linguagem humana a fim de que cada um se conscientize da grandiosidade do amor divino. Cada um é convidado a julgar por si mesmo: "Julgai entre Mim e a Minha vinha".

Não quer você, prezado leitor, fazer uma profunda reflexão e decidir ser uma videira mansa em vez de videira brava?


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