LIÇÃO 3 – QUANDO O MUNDO ESTÁ CAINDO

Gerson Pires de Araújo
Mestre em Educação
Doutorando pela Universidade Andrews, E.U.A. 

Introdução

Muitas vezes, parece que nosso mundo está caindo aos pedaços e que fomos atingidos pela onda da desgraça. Ficamos arrasados e sem qualquer disposição para continuar nosso caminho pela vida. Poucas vezes, no entanto, paramos para fazer uma reflexão profunda e verificar se essas aflições não são resultado de nossas decisões errôneas ou atrasadas. E quando a desgraça se abate sobre toda uma nação, são, muitas vezes, resultado de decisões fracas, atrasadas, ou errôneas de um líder. Neste sentido também, as instituições são a sombra de um líder. Quantas vezes tomamos decisões acertadas depois que as conseqüências já se abateram sobre nós. Poucas vezes são tomadas decisões preventivas para que os males não ocorram. Nesta semana verificaremos que a aliança com o mundo não resolve problemas espirituais.

Quando as dificuldades vêm, deveríamos nos lembrar de que em todas as provações temos um Pai amoroso, que "sabe o que é padecer", que simpatiza com nossos sofrimentos e que é amigo de pecadores. Em cada promessa de graça, alegria e ato de amor que recebemos devemos ver "Deus conosco". Devemos entender que estamos vivendo no terreno encantado do inimigo, somos protagonistas de uma luta, em um conflito cósmico e que Deus está agindo a nosso favor mesmo quando passamos por dificuldades e tribulações.

I. Perigo do Norte

É interessante notar que precisamente neste capítulo de Isaías, em que o profeta relata uma crise na vida de Acaz, rei de Judá e conseqüentemente crise entre o povo, é que foi dada a promessa maravilhosa de "Emanuel, Deus conosco".

A Escritura nos diz que Acaz "não fez o que era reto perante o Senhor". Isso levou o povo a práticas de idolatria, e muitos que anteriormente haviam permanecido fiéis a Jeová agora foram levados a participar de cultos pagãos. Líderes se demonstraram infiéis, e mesmo alguns dos sacerdotes ensinavam o povo a se desviar por interesses materiais. Procuravam, entretanto, manter a forma de culto divino, proclamando-se povo de Deus.

Em cada época da História, Deus tem enviado profetas convidando o povo errante a retornar de seus maus caminhos e se voltar para Deus. Isso não é diferente em nossos dias.

O fundo histórico da lição desta semana nos leva à situação em que Judá foi atacado pelos reinos da Síria e de Israel, chamada "guerra siro-efraimita" (735 a.C.) porque Acaz se recusa a entrar numa aliança com essas nações para fazerem frente à ameaça do rei da Assíria.

Quando se deu a notícia de que essas nações haviam decidido invadir Judá e pelejar contra Jerusalém, o jovem rei de vinte anos tremeu, e o coração do povo "tremeu como se agitam as árvores do bosque com o vento". Deus então envia o profeta com uma mensagem de ânimo e encorajamento, apelando para que ele não temesse essas duas nações, que estavam prestes a serem dominadas pela Assíria, sendo comparadas a "dois tições tirados do fogo".

Acaz não deveria temê-los, mas confiar em Deus e permanecer fiel a Jeová. A autoridade dos reis da Síria e de Israel deveria se restringir a seus próprios países (Isa. 7:7-9). Essas nações deveriam ser destruídas dentro de 65 anos (v. 8). S.J. Schwantes sugere que este verso deveria ser lido quinze anos, e não sessenta e cinco. Realmente, o que aconteceu foi que, antes de decorridos os quinze anos, Efraim ou Israel foi tomado pela Assíria (722 a.C.). Se Acaz confiasse e permanecesse fiel a Deus, teria a proteção divina.

O que se viu, entretanto, foi a ação rebelde de um rei fraco e vacilante. Em vez de confiar no braço poderoso de Jeová, Acaz procurou ajuda e aliança exatamente de Tiglate-Pileser, rei da Assíria, enviando-lhe riquezas a fim de que este o livrasse de seus inimigos do Norte. O ditado diz: "Quem ao perigo corre, nele morre." Deus enviara mensagem de advertência e encorajamento convidando Judá a resistir e confiar em Deus, mas Acaz, demonstrando fraqueza moral e espiritual, escolheu se apoiar no braço humano de um rei pagão. Devemos aprender que contemporizar com o mal pode trazer posteriormente problemas maiores e mais difíceis. Este tributo oferecido ao rei da Assíria despertou a cobiça, de modo que dificuldades maiores sobrevieram posteriormente e este "não o ajudou" (II Crôn. 28:21).

II. A mensagem junto ao aqueduto

Embora Acaz não estivesse andando nos caminhos do Senhor, Deus não abandonou o Seu povo. Ordenou a Isaías que fosse ao aqueduto, onde encontraria o rei, e desse uma mensagem em companhia de seu filho Shear-yashub, "um resto voltará", como promessa para o futuro da nação, mensagem de encorajamento. Os reis da Síria e de Israel intentavam mal contra Judá mas não prevaleceriam e iriam fracassar. Muitas vezes no passado, nações têm se insurgido contra outras mas, se não for desígnio de Deus, elas não prevalecerão. Podemos mencionar a invasão de Átila sobre o império romano, Carlos Magno, Napoleão Bonaparte, que sonharam dominar o mundo, contudo falharam porque não deveria surgir um quinto império universal.

É interessante que a mensagem de Isaías termina com um apelo a confiar em Deus e crer nEle. Depois da promessa de que o inimigo não prevaleceria, "se não o crerdes, certamente não permanecereis" soa como uma advertência. O futuro de Judá dependeria de o rei exercer fé e confiança na proteção de Deus. "Esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé" (I João 5:4), diria João, séculos mais tarde. As circunstâncias e direção de nossa vida dependerá da fé que exercermos agora e de permitirmos que Deus dirija nossa vida. A advertência da serva do Senhor é de que se pudéssemos conhecer o fim desde o princípio iríamos escolher exatamente o caminho pelo qual Deus nos faz passar em nossa vida. Isso deve servir de estímulo para permitirmos que Deus tome conta de nossos passos e nos dirija pelo caminho da Sua vontade, e não da nossa. Uma condição "sine qua non" é deixarmos nossos maus caminhos.

As crises em nossa vida deveriam levar-nos a fortalecer a fé e a depositar mais confiança no poder divino. Os três jovens hebreus diante da fornalha de fogo ardente, ao enfrentar o rei, disseram-lhe: "O Deus a quem servimos, Ele nos livrará..." Até aí eles confiavam plenamente na libertação de Deus. Mas ao continuarem o diálogo, disseram: "Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste". Quer dizer: Ainda que Deus não nos queira livrar da fornalha, ainda assim não adoraremos porque não queremos fazê-lo e assumimos plena responsabilidade por nossa escolha. Isto é liberdade cristã no mais alto sentido. Se Deus quer livrar-nos ou não das tribulações, isso não nos deve demover de fazer o que é reto e tomar as decisões acertadas, conforme a vontade divina. Depois de decidirmos certo, devemos assumir as conseqüências e aceitar as responsabilidades dessa livre escolha.

Ao nos aproximarmos do tempo da volta de Jesus, Deus envia Seus servos para advertir o mundo a se preparar para este grande acontecimento. Milhões têm vivido em total transgressão da lei moral de Deus, e agora Deus, em Sua misericórdia, envia também uma mensagem apelando ao arrependimento dos pecados e exercer fé em Cristo para que sejam perdoados. Muitos acham que é muito sacrifício abandonar o pecado e viver uma vida de santidade diante de Deus, ainda que estejam sofrendo as conseqüências de seus maus caminhos.

III. Outra oportunidade

Como o rei não atendesse o apelo em confiar em Deus, Este lhe dá uma outra oportunidade em razão de Sua misericórdia e longanimidade. Embora nossa fé não deva estar alicerçada em sinais, Deus propôs ao rei dar-lhe um sinal. A fé não deve se basear em milagres ou sinais, contudo Deus não deixa de dar evidências a favor da verdade, a fim de que a fé não seja "um salto no escuro". "Provai e vede que o Senhor é bom." Deus deseja que nossa vida seja uma vivência, um modo de viver de contínua confiança em Sua bondade e amor.

Ao oferecer um sinal para encorajar o rei a aceitar a promessa, este responde ao profeta: "Não o pedirei nem tentarei ao Senhor." Esta resposta pode ter dois sentidos. Um, em que o rei demonstra humildade rejeitando um sinal por confiar inteiramente em Deus, independente de sinais.

Outro, em que o rei, não queria que Deus tomasse conta de sua vida. Se permitisse que Deus lhe desse um sinal, estaria se comprometendo a permitir que Deus dirigisse suas decisões e seu caminho na direção do reino. Seria submeter seu ego à vontade de Deus. Isso o rei não estava disposto a fazer.

O mesmo acontece conosco hoje. Quando tomamos a decisão de não permitir que Deus dirija nossa vida, estamos nos dirigindo ao limite por Ele estabelecido, além do qual não há mais volta. Deus põe limites além dos quais o homem não pode ir. Acaz estava cansando a Deus a quem Isaías chama de "meu" Deus, num claro contraste entre dois indivíduos diante do poder soberano do Universo. Um desafiava as ordens e a compaixão divina, o outro obedecia à clara direção de Jeová.

A longanimidade de Deus é maravilhosa. Por muito tempo a justiça de Deus tem esperado enquanto a misericórdia pleiteia junto ao pecador. Deus é tardio em irar-Se, contudo, Sua ira não conhece limites enquanto o mal não for totalmente desarraigado do Universo. Está se aproximando o tempo em que o mundo alcançará o limite prescrito por Deus. Mesmo agora a humanidade está chegando aos limites da graça e misericórdia divinas. Não há, contudo, limites para a prática do bem. Podemos ser radicais em fazer o bem e é através de atos de amor que outros serão compelidos a aceitar a graça de Jeová. Tudo depende da fé. Se cremos que Deus nos ama e quer nosso bem, iremos aceitar-Lhe os desígnios. Se a descrença toma conta da mente, o coração é endurecido e não há o que possa abrandá-lo.

IV. O sinal de um Filho

Embora Acaz se recusasse a aceitar um sinal, Deus, em Sua misericórdia para com a casa de Davi oferece um sinal: "Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel".

Comentaristas dizem que a palavra "virgem" aqui mencionada não significa na realidade uma moça virgem mas uma mulher em idade de casar-se, jovem casadoira. Como o sinal antes de tudo era para Acaz, provavelmente uma jovem daria à luz um filho, do sexo masculino, e seria chamado de Emanuel, "Deus Conosco", indicando a presença e proteção divina. Este sinal deveria servir de encorajamento para o rei e para Judá, diante dos perigos da guerra iminente. Se examinarmos os versos seguintes, notaremos que antes que o menino soubesse discernir entre o bem e o mal, já os países da Síria e Efraim deixariam de existir como nações independentes. A idade de discernimento moral, isto é, a adolescência do menino que nasceria seria o limite da existência daquelas duas nações.

Ao aplicarmos esta profecia ao tempo de Acaz, não quer dizer que ela não tenha aplicação posterior de âmbito universal. Mateus, em seu evangelho, aplica este verso a uma jovem virgem, antes de haver coabitado com seu esposo, encontrar-se grávida por obra e graça do Espírito Santo.

Se o sinal dado a Acaz e Judá não surtiu efeito em conduzir o povo ao arrependimento, pois o rei preferiu pedir ajuda da Assíria, o Filho que nasceria dessa virgem realizaria Sua obra de salvar o Seu povo dos pecados.

Jesus é Deus e Homem. Aliás, o único homem que desde Adão conseguiu passar Sua vida aqui neste mundo "sem pecado" (Heb. 4:15), realmente "Deus Conosco". Isto deve ser tudo para nós. É o fundamento para nossa fé e a única maneira de podermos nos libertar da escravidão do pecado. Ao aplicar a expressão "este templo" a Seu corpo, queria também dizer que habitaria conosco e em nós. Como Jesus veio morar conosco podemos ter certeza de que Deus está ciente de nossas provações e simpatiza com nossos sofrimentos. Nosso Criador é "amigo de pecadores". Deus Conosco é a certeza de nosso livramento do pecado e a certeza de poder para obedecer aos reclamos da lei do céu.

"Cristo Se empenhou em ensinar a sublime verdade que tanto carecemos aprender, que Deus está sempre conosco, íntimo em cada habitação, e que está familiarizado com tudo quanto ocorre na Terra. Ele conhece os pensamentos que se formam na mente e são aceitos pela pessoa. Ele ouve cada palavra que sai dos lábios dos seres humanos. Anda e trabalha no meio de todas as atividades de nossa vida. Ele conhece cada plano e mede cada método." – Minha Consagração Hoje, pág. 290.

V. "Deus Conosco"!

Deus Conosco! Que maravilhosa realidade. Deixar o trono do Universo, dirigir-Se ao mais ínfimo dos mundos, cheio de maldade e pecado, assumir a carne depois de quatro mil anos de pecado, conviver entre os homens ímpios e sofredores, provar suas tristezas, sofrimentos, necessidades, angústia e morte abjeta, sendo pregado numa cruz por indivíduos que "são pó", para salvação dos que Ele mesmo criou e que O destronaram de seus corações. Maravilhoso amor!

Deus conosco! Não somente quer dizer que Deus está entre nós como esteve desde o início no Éden, acompanhou Seus filhos durante a era patriarcal, dirigiu o povo de Israel durante a peregrinação do deserto e depois, na terra de Canaã, durante os séculos seguintes, por meio de mensageiros dedicados a transmitir Suas mensagens. Mesmo durante o exílio sofrido em conseqüência de haverem rejeitado a orientação divina, mesmo lá Deus foi "Deus conosco".

Deus continuou estando com Sua igreja após a vinda do Messias, estabelecendo-a com sólidos princípios imutáveis; durante os séculos da Idade Escura sempre conservou representantes Seus, até que novamente Suas verdades pudessem outra vez ser resgatadas quando Sua Palavra foi impressa e espalhada aos milhões pelo mundo.

Nos dias atuais, nos momentos finais da História, Deus ainda está conosco! Deu surgimento ao movimento que deve espalhar Sua Palavra pela pregação e pelo testemunho de uma vida em que os princípios possam ser vistos e observados por todos. Não pode haver dúvidas de que está conosco ainda hoje, em que pesem as falhas e imperfeições desta Igreja. Seus princípios podem ser comprovados através da obediência a Suas leis e estatutos, se tão-somente Seu povo os encarnar em seu viver diário. Para que isso seja possível Ele está conosco dando-nos o poder necessário através da presença de Seu Espírito.

Deus estará conosco até o final para que Sua igreja possa sair vitoriosa da crise última quando a luta entre o bem e o mal estiver em sua batalha mais acirrada. A vitória é certa e garantida porque Deus está conosco. Há somente uma única condição: permanecermos com Ele e nEle. "Cristo em vós" e "vós em Cristo".

Mas, o que é mais maravilhoso. desde a Encarnação Deus é um de nós!!! Deus-Homem e Homem-Deus por toda a eternidade.

Levantemos mãos santas em louvor, aleluias e hosanas.

Embora haja um véu de desconhecimento quanto ao futuro, temos um conhecimento de como Ele nos dirigiu no passado e o que está fazendo no presente. Dia após dia temos evidências de Sua presença conosco. Deus é revelado a nós em Cristo. Quão próximos ao Céu podemos estar se tão-somente O recebermos em nossa vida. "Quem Vê a Mim, vê o Pai."

"Deus habita em cada residência, ouve cada palavra proferida, escuta cada oração que é a Ele dirigida, experimenta cada sofrimento e desapontamento dos homens, considera o tratamento que é dispensado a pai, mãe, irmão, irmã, amigo e vizinho. Ele compreende nossas necessidades, e Seu amado Filho é o canal através do qual Seu amor, misericórdia e graça fluirá para satisfazer nossa necessidade." – Signs of the Times, 11 de abril de 1895.

Há, entretanto, necessidade de muito mais fé e todos os talentos confiados devem ser chamados à ação por parte do povo de Deus. Há necessidade de muito mais oração. Como nunca antes devemos suplicar por abundância plena do Santo Espírito. Todos devem se empenhar no cumprimento dessa missão legada à igreja. O eu de cada membro deve morrer para que Cristo possa estar em cada um de nós. Então seremos imbuídos do Santo Espírito para trabalhar, não em sua própria mente mas dirigidos por Cristo. Seremos perfeitos em unidade com Cristo e então até nosso semblante estará resplandecente de Sua glória.

"Emanuel, Deus Conosco"! Isso significa tudo para nós. Que sólido fundamento para base de nossa fé. Que grande esperança de imortalidade se apresente a cada alma crente. Deus conosco em Cristo Jesus para nos acompanhar em cada passo da jornada para o Céu. O Espírito Santo conosco como um Consolador, um Guia em nossas perplexidades para aliviar nossos sofrimentos, e proteger-nos nas tentações. ‘Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus!’" – Manuscript Releases, vol. 3, pág. 18.


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