LIÇÃO 4 – A GRAÇA É INCLUSIVA

Dr. José Carlos Ramos
D.min., é professor de Daniel e Apocalipse

A lição desta semana inclui os diálogos, bastante conhecidos, de Jesus com Nicodemos e de Jesus com a mulher samaritana. São considerados duas "parábolas vivas", no sentido de que os episódios encerram um significado que vai além deles.

Com efeito, uma passagem de transição (2:23-25), que pode ser considerada um prólogo ao primeiro diálogo, é concluída com a afirmação de que Jesus tem pleno conhecimento do que é a natureza humana. Isto deve ser entendido não apenas em termos de Sua divindade; claro que, como Deus, nada Lhe é oculto, inclusive quanto ao homem; afinal Ele é o seu Criador. Todavia, para um evangelista que enaltece a encarnação, o conhecimento que Cristo tem do homem é também por experiência; não se deve esquecer que Ele conhece a natureza humana porque a adotou, e sabe tudo acerca da humanidade. Este fato, por demais sublime, é confirmado nos dois referidos diálogos.

A graça é inclusiva porque, na perspectiva do escritor, Nicodemos e a mulher samaritana incorporavam a humanidade no seu todo, já que ocupavam situações extremamente opostas (ver, na lição, o primeiro dos parágrafos que seguem à pergunta 10). Nos dois diálogos ficou evidenciada, como a lição corretamente observa, a verdade de 3:16, "Deus amou o mundo..." E em ambos, Jesus revelou conhecer, mesmo nos detalhes mais íntimos, as pessoas com quem conversou, o que, a nosso ver, confirma também a declaração de 2:25: Ele sabe tudo a nosso respeito.

Isto deve fortalecer a fé. Não importa nosso status, condição, situação, sonhos, problemas, deficiências (inclusive as de ordem espiritual), conflitos, tensões, traumas, provações, ambiente, privilégios, deveres, enfim, qualquer aspecto de nossa realidade, Ele nos conhece assim como somos e está pronto a nos ajudar efetivamente com orientações que mudam, ou então ampliam, os nossos horizontes; e com os recursos para que os alcancemos.

De fato, a graça é toda inclusiva.

Domingo – Quando os milagres não são suficientes

O verbo "crer" é empregado em 2:23; mas o texto não fala da fé genuína. Antes, o que ocorreu em Jerusalém foi agitação, entusiasmo, delírio popular por aquilo que está sendo contemplado: os milagres de Jesus. Não basta "ver" com o olho físico; é necessário "enxergar" com a intuição correta daquilo que, com o Seu ministério, Jesus revela ser. Isso se torna possível apenas pelo operar do Espírito Santo, que, em João, é outorgado pelo Cristo ressurreto. É por isso que, neste Evangelho, a culminação da fé é alcançada após a ressurreição, e foi expressa justamente por alguém que afirmou que só creria que Cristo havia ressuscitado se O visse e O tocasse (20:24-28): "Senhor meu e Deus meu!" Jesus satisfez suas condições, e, então, disse: "Bem-aventurado os que não viram, e creram" (v. 29).

Lembre que o evangelista escreveu para leitores da segunda geração, isto é, para aqueles que não tiveram oportunidade de conhecer pessoalmente a Jesus e testemunhar Suas obras. Através da Palavra, contudo, o caminho à fé legítima era franqueado a eles de maneira tão real quanto aos que tiveram a oportunidade de ouvir e ver diretamente a Jesus. Esta asserção foi perseguida em toda a narrativa.

Como a lição diz, há diferentes sentidos de fé no quarto Evangelho. Na verdade, o escritor nunca registrou esta palavra nesse livro, salvo na forma verbal "crer", porque para ele fé não é simples disposição interna, mas um compromisso ativo. Para João, a fé autêntica exige um compromisso total e dinâmico com Jesus. Este sentido dinâmico pode ser observado no fato de que crer em Jesus é equivalente a vir a Jesus (6:35; 7:37 e 38). Implica numa perfeita união com Cristo, exemplificada na pessoa do discípulo amado. Mais do que confiança nEle, crer é uma aceitação de Jesus e do que Ele diz ser, bem como uma total dedicação da vida a Ele. O crer não é emocional (como no caso do entusiasmo gerado pela visão de milagres), mas envolve a vontade e o empenho, traduzidos, por exemplo, em termos do amor (I João 3:23) que é sempre dinâmico (vv. 17 e 18).

Mas a "fé" oriunda de milagres é superficial e, portanto, inadequada, porquanto "não conduz a um relacionamento de salvação com Jesus." É mero entusiasmo que pode mesmo ir ao clímax do êxtase hoje, mas, com a mesma rapidez, pode fenecer amanhã. A verdadeira fé, porém, leva à aceitação incondicional da Palavra. É por isso que Jesus, contando a parábola do rico e Lázaro, deixou claro a respeito dos judeus de Seus dias, que eles não creriam (com a verdadeira fé) ainda que um morto ressuscitasse, e não creriam por não ouvirem a Bíblia daquele tempo, "Moisés e os profetas" (Luc 16:31). João comprovou a veracidade deste fato, mostrando que um morto, precisamente chamado Lázaro, ressuscitou e eles continuaram na incredulidade (cap. 11).

Segunda – Ele veio de noite

A lição de hoje e a de amanhã abordam o encontro de Nicodemos com Jesus e o diálogo entre eles. O episódio assegura que a mera vivência e mesmo a liderança religiosa são insuficientes para que se desenvolva um verdadeiro relacionamento com Jesus. Alguém pode ser um líder espiritual do povo, e estar longe da espiritualidade que a fé genuína produz. A religião pode estar substanciada numa rotina de formalidades que não leva a lugar algum; uma reflexão em João 3 deveria nos induzir a indagar não se já somos adventistas, mas se já nascemos de novo.

Nicodemos (nome grego que significa líder do povo, ou vitorioso sobre o povo) era um dos que creram em vista dos sinais realizados em Jerusalém. Os fariseus não concordavam com o que se passava no templo, e Nicodemos deve ter tido sua atenção chamada para Jesus a partir de Sua ação ali. Sua admiração aumentou ao testemunhar os sinais. Portanto, ele veio a Jesus apenas com uma fé superficial que lhe permitiu chamá-Lo "Mestre!", e reconhecê-Lo como enviado da parte de Deus, o que era próprio de um profeta comum (1:6).

Muito mais seria esperado da fé autêntica. Na verdade, Nicodemos não vira ainda o sinal maior, Cristo mesmo, mas o faria mais tarde. Ele é mencionado mais duas vezes: em 7:50-52, onde aparece como "um dos principais dos judeus" e atua no Sinédrio em defesa de Jesus, e em 19:39 onde, junto com José de Arimatéia, providenciou o sepultamento dEle. Através do Espírito de Profecia, sabemos de sua conversão e de como apoiou financeiramente a primitiva Igreja em Jerusalém (O Desejado de Todas as Nações, pág. 125; Atos dos Apóstolos, págs. 104 e 105).

O ato de Nicodemos ir a Jesus pela noite tem sido geralmente considerado como evidência de que o doutor da lei queria evitar se expor ao eventual ridículo de ser visto procurando um humilde e despretensioso galileu para conversar. De fato, um reconhecido mestre em Israel procurar um mestre não oficial e, ainda, da Galiléia era, no mínimo, constrangedor. Afinal, Cristo nem ao menos passara pelas escolas da época (7:15).

Mas não devemos exagerar esse propósito, já que mais três são igualmente plausíveis:

(1) disponibilidade de tempo. É possível que Nicodemos não viu uma oportunidade de ter um encontro particular com Jesus a não ser à noite, quando Ele tinha um tempo relativamente livre;

(2) costume rabínico. Os rabis eram aconselhados a meditar na Lei tanto de dia como de noite.

(3) apelo da consciência, quanto ao que via em Jesus e ouvia acerca dEle. Decidiu não dormir aquela noite sem primeiro encontrar-se pessoalmente com Ele.

Além do mais, "noite", em João, tem um sentido mais profundo, face ao dualismo luz X trevas que o escritor registra. Há um elemento simbólico em "noite". Nicodemos parte das trevas para a "luz", exatamente o contrário do que Judas fez (13:30). A lição fala da "escuridão no coração de Nicodemos no momento em que veio a Jesus."

Nicodemos começa o diálogo, falando como um "doutor da lei": "sabemos..." (13:2). Mas, na resposta do Mestre, a necessidade do novo nascimento foi contraposta ao intelectualismo acadêmico. E como, com o seu "saber", Nicodemos expôs o conceito que nutria sobre Jesus, infere-se que uma consideração precisa de Sua Pessoa vai além do mero intelectualismo, o qual poderá até ser um empecilho; apenas a mente direcionada pelo Espírito pode atinar com a realidade.

Com efeito, como a lição pondera, "Nicodemos não podia esconder [de Jesus] a ignorância espiritual por trás da fachada de [uma] religiosidade de formas e costumes". Tal desconhecimento se tornou mais evidente a ponto de, em certa altura, lhe ser inquirido: "Tu és mestre em Israel e não sabes estas coisas?" (v. 10). Mais que "Mestre vindo da parte de Deus" (o máximo que o "sabemos" de Nicodemos podia reconhecer), Jesus era "Deus enviado como Mestre". E isso o doutor da lei tinha de aprender.

Terça – O novo nascimento

Não só o intelectualismo acadêmico de Nicodemos, mas seu pietismo religioso foi confrontado com a necessidade do novo nascimento. Nossos "valores morais" ficam aquém do requerido, primeiro, para se "ver o reino de Deus" (v. 3), isto é, para uma correta compreensão de quem Jesus é e de qual a natureza de Sua obra; e, segundo, para se "entrar" nesse reino (v. 5), isto é, para se alcançar a vida eterna.

Ninguém, por exemplo, coloca em duvida as "qualidades religiosas" de alguns pretensos cristãos que não aceitam a plena divindade de Jesus. São eventualmente sinceros em sua ética, mas incapazes de perceber além do que a razão humana lhes determina. Falta-lhes o essencial, o novo nascimento. Curiosamente, as chamadas testemunhas de Jeová, um dos grupos que rejeitam a Cristo como pleno Deus, crêem que a experiência do novo nascimento não se destina a elas; é para a pequena e privilegiada elite que dirige o movimento, e que, a julgar pelos erros doutrinários que passam ao corpo de membros, também precisam dele.

Assim, o inimigo condiciona pobres pecadores no erro, e conforma-os à ilusão de que as coisas são de fato assim. Não é por mero acaso, que a classe que mais ofereceu resistência a Jesus foram os líderes do povo, inclusive os religiosos, acomodados que estavam numa condição de satisfação própria, da qual não queriam ser demovidos e quanto a qual não queriam ser incomodados. Dentre esses, Nicodemos foi um dos poucos que procurou a Jesus, deixando-se levar pela idéia de que, talvez, o Galileu poderia ter algo muito melhor a oferecer.

Pela mesmíssima razão foi que a necessidade do novo nascimento pegou o doutor da lei de surpresa. Ele sabia o que isto significava, já que o Velho Testamento não deixara de tocar no assunto, mas se surpreendeu de que ele, um fariseu, precisasse nascer da água e do Espírito. Um gentio qualquer necessitava da experiência. Mas ele? Um fariseu? Isso parecia inconcebível.

Mas era justamente o que Jesus estava lhe dizendo. Inicialmente saiu com evasivas: "Como posso nascer sendo velho? Como é possível retornar ao útero materno para então renascer? Como pode ser isso?" (vv. 4 e 9). Amorosamente, Jesus desdobrou a matéria, explicando o que supostamente não precisaria ser explicado: o novo nascimento não era outro nascimento físico (ou qualquer tipo de reencarnação, como querem os espíritas). Quem "nascer da carne", um milhão de vezes que fosse, não resolveria absolutamente o problema, pois "o que é nascido da carne é [sempre] carne" (v. 6). Ele estava falando em termos de "nascer da água e do Espírito" (v. 5).

O nascer da água é geralmente tomado como uma figura do batismo. Todavia, o batismo cristão ainda não havia sido instituído quando do diálogo, e é bem possível que o batismo de João Batista deva aqui ser subentendido. Este batismo envolvia arrependimento e purificação (3:25). Então "água" estaria em contraste com "Espírito", como batismo da água estaria em contraste com batismo do Espírito. Nesse caso Jesus estaria requerendo de Nicodemos que se submetesse ao arrependimento, à purificação e ao batismo de João como passo inicial no processo de seu discipulado, e condição para o batismo do Espírito, a culminação da experiência do discipulado. Este ponto de vista é interessante, considerando que, no quarto Evangelho, os discípulos partem da obra do precursor, e que os fariseus haviam rejeitado o batismo deste (Luc. 7:30).

Outra interpretação considera o nascimento da água como uma e a mesma experiência com o nascimento do Espírito. No original, a estrutura do texto une "água" com "Espírito", como um único fator de regeneração: "Quem não nascer da água e Espírito..." Esta interpretação conta com os seguintes pontos:

(1) nascer de novo (regeneração) no verso 3 corresponde a nascer da água e Espírito no v. 5, pois aqui Jesus está repetindo o que declarara antes, agora apenas como parte da resposta à indagação de Nicodemos no v. 4.

(2) o batismo nas águas é apenas um lance no processo da regeneração pelo Espírito. É difícil entender porque Jesus mencionaria aqui o batismo nas águas sem se referir a outros lances também significativos neste processo, tais como, o arrependimento, o crer, a conversão, etc.

(3) No desdobramento da explicação, Cristo menciona apenas o Espírito. Ver os versos 6-8.

(4) Água é símbolo do Espírito no quarto Evangelho. Ver 7:37-39.

Esta interpretação permite também entrever o tema da criação no diálogo. No princípio Deus fez surgir a terra da água, por sobre a qual o Espírito de Deus pairava (Gên. 1:2). Igualmente a nova criação (novo nascimento) procede da água, usada como símbolo do Espírito: nascer da água → nascer do Espírito → regeneração → re-criação.

É verdade que Ellen G. White aplica o nascer da água ao batismo: "Nicodemos sabia que Jesus Se referia aí ao batismo de água, e à renovação da alma pelo Espírito de Deus. Ficou convencido de achar-se na presença dAquele que João predissera." (O Desejado de Todas as Nações, pág. 172). Mas ela abre espaço para uma aplicação mais ampla ao afirmar que "a fonte do coração se deve purificar para que a corrente se possa tornar pura." – Ibidem.

Ambas as interpretações parecem plausíveis. A lição adota a primeira: "a declaração de Jesus aqui sugere a necessidade de um duplo batismo, um externo, pela água, e um interno, pelo Espírito Santo."

Quarta e Quinta – Ela veio de dia / A atração dos opostos

João 4 pode ser considerado o Calvário de Samaria face aos seguintes paralelos:

v. 6 – o cansaço de Jesus, uma realidade no Calvário

v. 6 – referência à hora sexta (19:14)

v. 7 – a sede de Jesus. Na cruz Ele bradou: "tenho sede" (19:28)

v. 14 – "água", fonte que jorra para a vida eterna. Na cruz jorrou "água" e "sangue" de Seu peito ferido

v. 31 – "pão", alimento básico. Na cruz o corpo de Jesus é pão (cap. 6)

v. 34 – a obra de Deus a ser feita. Na cruz Ele brada: "está consumado" (19:30)

v. 42 – Jesus, o "Salvador do mundo". É na cruz que isto se concretiza

Este capítulo fala também do preconceito entre judeus e samaritanos. Razões deste preconceito:

(1) a Assíria levara as 10 tribos do norte em cativeiro para outras terras, e trouxera habitantes de outras terras para povoarem o território desocupado;

(2) estes estrangeiros haviam vindo com seus deuses e costumes. Aos poucos foram agregando a adoração de Jeová aos seus cultos, de forma que ali se estabeleceu um sincretismo religioso;

(3) formaram um grupo peculiar nos aspectos de suas crenças; criam, por exemplo, apenas no Pentateuco;

(4) ao começarem os judeus a reconstruir o templo de Jerusalém, ofereceram-se para ajudar mas foram rechaçados. Isso resultou em inimizade que se intensificou na passagem dos anos. Os samaritanos responderam fomentando intrigas contra os judeus diante dos reis persas, e dificultando a continuidade da obra;

(5) eles se recusaram a adorar em Jerusalém, e construíram o seu próprio templo no monte Gerezin em 400 a.C.;

(6) o ódio se intensificou quando em 128 a.C. os judeus queimaram o templo samaritano.

A lição pede que se leia todo o relato de Jesus com a mulher samaritana e se observe algumas coisas interessantes. Uma delas é maneira como o Salvador Se dirigiu a ela, pedindo-lhe um favor. Isto a surpreendeu, dado ao preconceito entre judeus e samaritanos. Se Jesus tivesse Se oferecido para ajudá-la a tirar água do poço, provavelmente ela teria recusado o favor e fechado o caminho para o diálogo. A maneira como Jesus agiu levou-a a falar e o diálogo se processou normalmente.

Jesus foi sábio também na maneira como conduziu o diálogo, fazendo as colocações no momento e modo corretos, e preparando o espírito da mulher para finalmente ouvir até coisas um tanto duras para ela. Por exemplo, o que teria acontecido se Jesus logo de início afirmasse o que Ele declarou mais tarde: "vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus" (4:22).

Que tato, que discrição, que prudência Jesus demonstrou quando tocou um problema particular e íntimo da mulher! Ele o fez de forma polida e delicada, sem ferir, sem magoar, sem melindrar, mas conseguindo cativar ainda mais a simpatia e o interesse daquela alma (vv. 17 e 18), atraindo-a finalmente para o campo espiritual onde Ele Se situava. Isso feito, Jesus apenas conduziu o diálogo para um clímax surpreendente: Sua manifestação como Messias. O resultado não se fez por esperar. Esta mulher, a primeira missionária de Jesus, saiu em busca dos perdidos, seus próprios vizinhos e conhecidos, para conduzi-los ao Salvador. Ela havia tomado da água da vida e ansiava que outros também se dessedentassem. E o fizeram, primeiramente pelo testemunho da mulher, e em seguida por ouvirem a palavra do próprio Salvador (v. 42). Extraordinário!

O que é a água da vida? Não entendo que seria o próprio Jesus. Ele é identificado neste Evangelho como o Pão da vida (6:48), mas nunca como a água da vida. Este é um dom que Ele oferece. Seria...

(1) ... o Espírito Santo, que é comparado com a água (7:38 e 39).

(2) ... uma nova vida oriunda do novo nascimento, que é fruto do Espírito Santo. Se assim considerado, o tema do novo nascimento estaria incluído neste capítulo.

(3) ... os ensinos de Jesus, Suas revelações (cf. Prov. 13:14; 18:4). O ensino de Jesus produz nova vida espiritual. No pensamento judaico, as expressões "dom de Deus" e "água viva" descreviam a torah. É possível que, se o pensamento samaritano fosse o mesmo, a mulher tenha entendido que Jesus apresentava-Se e a Seus ensinos, como em substituição à torah.

Ellen G. White faz duas afirmações sobre a "água da vida" que merecem referência: (1) "a divina graça que só Ele pode comunicar, ... purificadora, refrigerante, revigoradora da alma"; e (2) "a vida espiritual que Cristo dá a toda alma sedenta" (Ibidem, págs. 187 e 190).

O que é adorar a Deus em espírito e verdade? Significa que local e simbolismo quanto à adoração devem ser deixados para trás. O verdadeiro local agora é "em espírito", isto é, o íntimo, a adoração partida de dentro, portanto não se limitando a um ato meramente externo e formal; e a verdadeira substância da adoração agora é "em verdade", isto é, com respeito à realidade, o culto definitivo quanto à maneira e o objeto da adoração. Os samaritanos não conhecem o que adoram; os judeus adoram por sombra. Ambas as deficiências são agora removidas.

Juntamente com a descrição do culto verdadeiro ocorre uma referência à natureza dAquele que deve ser adorado: "Deus é espírito" (v. 24). Qualquer idéia do local geográfico, ou substância material na adoração é irrelevante, e só tem alguma razão se contribuir para a adoração nos moldes do verso 23. Para o verdadeiro crente o mundo todo é um templo.

"Deus é Espírito" não significa que Ele está em qualquer lugar e que por isso não há agora um lugar único e específico em que deve ser adorado. Ele está em Seu trono, em Seu próprio domínio, em Sua própria esfera. O homem natural ou carnal não tem acesso a ela. O evangelho provê a solução - o novo nascimento, o nascimento do Espírito. Mas a verdade é que atingimos esta esfera pelo Filho ("ninguém vem ao Pai senão por Mim", 14:6). Em qualquer lugar podemos adorar o Pai porque onde estiverem 2 ou 3 reunidos no nome do Filho, Ele aí está (Mat. 18:20) como novo templo, e conduzindo à presença de Deus.

Realmente, a Samaritana veio a Jesus de dia. Quanta luz incidiu sobre ela em seu diálogo com Jesus! Parece que Ele teve liberdade de avançar no tema da salvação mais com ela do que com o doutor da lei. E, sendo iluminada, tornou-se, ela mesma, um foco dessa luz.

Quanta luz incide também sobre nós quando estudamos um capítulo tão maravilhoso!


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