LIÇÃO 5 – FÉ GENUÍNA

Dr. José Carlos Ramos
D.min., é professor de Daniel e Apocalipse

A lição aborda o segundo milagre realizado por Jesus no quarto Evangelho: a cura do filho de um oficial do rei, parte final da seção que aborda a transição do que é temporário para o que é definitivo. A exemplo do primeiro, este milagre é classificado como "sinal" (4:54), e pode, portanto, ser considerado também uma parábola viva.

Há dez paralelos entre os dois sinais:

  1. Jesus voltara à Galiléia
  2. Alguém apareceu com um pedido
  3. Indiretamente Jesus pareceu recusar atender
  4. O solicitante insistiu
  5. Jesus atendeu o pedido
  6. Resultaram em fé
  7. Não é explicado como foram operados
  8. Foram fundamentados na palavra de Jesus
  9. Não são seguidos por discursos explicativos
  10. Em seguida Jesus subiu ao templo

Um está em contraste como o outro no sentido de que no primeiro, discípulos crêem em Jesus (2:11), enquanto que no segundo, não discípulos se tornam discípulos por crerem (4:53). Na verdade, os sinais seguintes levarão novas pessoas à fé ao tempo em que fortalecerão os que já são discípulos, mas o ponto de destaque será então o confronto com os incrédulos, numa forma ascendente: de controvérsia (3º, 4º e 5º sinais) o confronto se degenera em conflito, que envolve até os discípulos (6º sinal), para então descambar em crise (7º sinal) que culmina na condenação e execução de Jesus.

Nos diálogos que antecedem o sinal (com Nicodemos e com a samaritana) os temas da fé e da vida são referidos para então alcançarem o ápice, dentro da seção, com o relato deste sinal, como se deduz de duas duplas de declarações: "... teu filho vive. O homem creu." "Teu filho vive; e creu ele e toda a sua casa" (4:50 e 53). O segundo sinal conclui esta seção porque, como se acabou de afirmar, ele culmina os temas da "fé" e da "vida", referidas nos diálogos prévios, e introduz a seção seguinte onde estes temas serão desdobrados e desenvolvidos mais amplamente.

Domingo – Sem honras em casa

A passagem de transição (4:43-45), inserida entre o ministério em Samaria e o relato do segundo sinal, registra Jesus mencionando um provérbio para aludir a forma como Seus conterrâneos O estavam considerando: "um profeta não tem honras em sua própria terra" (v. 44). Qual é "Sua própria terra", Galiléia ou Judéia? Embora a Judéia tenha sido incluída na referência em 1:11, "veio para o que era Seu, e os Seus não O receberam" (o que abrange o povo judeu como um todo), parece que aqui a melhor aplicação é à Galiléia, região onde, segundo os Sinóticos, Jesus passou a maior parte de Sua vida. Caso a Judéia estivesse em vista, esta observação teria sido inserida no início do capítulo, que fala de Sua saída da Judéia. Ademais, esta saída foi num contexto de relativo sucesso (3:22, 26 e 30; 4:1-3); é também com respeito à Galiléia que os Sinóticos registram observação idêntica (Mat. 13:57; Mar. 6:4; Luc. 4:24). Os acontecimentos se processariam de forma a confirmar as palavras de Jesus; o capítulo 6 mostra como a Galiléia O rejeitou.

Em 4:45, "os galileus O receberam, porque viram todas as coisas que Ele fizera em Jerusalém...", aparentemente contradiz esta posição, mas não podemos esquecer que não é este tipo de honra que Jesus almeja. Na verdade o evangelista coloca a fé superficial, manifestada na forma de simples entusiasmo, no contexto da rejeição. A fé superficial é devida ao fato de que os galileus viram os sinais e continuariam a vê-los, mas nada além destes; não reconheceriam o Realizador dos sinais. Como a lição afirma, "A resposta de boas-vindas dos galileus é semelhante à dos judeus, que mostraram fé em Jesus porque viram milagres e sinais. Os galileus achavam que estavam recebendo a Jesus de modo positivo. Mas um entusiasmo motivado só por milagres não é honra. Os galileus provaram ser um povo que se entusiasmava por milagres e ações espetaculares mas que era lento para crer nas palavras de Jesus. Seu entusiasmo por Jesus tinha maior motivação no egoísmo do que na fé em quem Ele era."

Segunda – É difícil ser real

No grego, a palavra "oficial" indica alguém de ligação com o rei, alguém com uma função ligada ao palácio ou mesmo alguém de sangue real, da família do rei. Conforme alguns estudiosos, ou seria Cusa, procurador de Herodes (Lucas 8:3), ou então Manaém, seu irmão de criação (Atos 13:1); ambos se tornaram discípulos de Jesus. Vemos que pessoas da nobreza, ou comportando cargos públicos, são tão carentes da salvação quanto os demais pecadores. Deveríamos ter planos definidos de como inteligentemente nos aproximarmos delas e evangelizá-las.

O oficial pediu em favor do filho, referido nos versos 46 e 47 por um termo grego mais comum para expressar filiação, e no verso 49, onde o pai desesperadamente intercede pelo filho, por outro termo expressando fragilidade ou ternura, próprio para se falar, por exemplo, de uma criança de tenra idade; "filhinho" seria uma versão, neste verso, que mais se aproxima do original.

O homem, de início, colocou em jogo a recuperação do filho ao expressar uma fé apenas superficial e interesseira em Jesus. Todavia, a branda reprimenda dEste (v. 48) somada à seriedade da situação do filho (a forma grega usada no verso 47 e vertida "estava à morte" significa "a ponto de morrer", ou, como costumamos dizer, "estava nas últimas"), levou-o ao nível correto de fé. A lição observa: "Ele não estava se apoiando na palavra de Jesus mas exigiu evidência física antes de crer. Ficou surpreso ao descobrir que não podia esconder sua incredulidade de Jesus (lembre-se do tema de João 2:23-25; Jesus sabe!). Percebendo que poderia perder tudo por causa da incredulidade, ele finalmente lançou-se aos pés de Jesus em desespero."

O verso 48 registra "sinais e maravilhas", fórmula alusiva a fatos sobrenaturais, fora do comum, e que produzem entusiasmo, um possível eco de Êxo. 7:3 e 4. Na atitude das pessoas em geral, o milagre é um fim em si mesmo. Para Jesus, é um meio de revelar uma verdade mais profunda e que transcende o próprio milagre.

Terça – O caminho para a fé

A fé depara sempre um imperativo divino, e, sendo genuína, não exitará em cumpri-lo. Simplesmente Jesus disse ao oficial que voltasse para casa porque seu filho estava curado. Ele poderia ter arrazoado: "Pedi a Jesus que viesse urgente para curar meu filho e Ele Se negou a fazê-lo, mandando-me de volta com a alegação de que o menino estava bem, algo que sei não ser verdade. Estou profundamente desapontado!" A verdadeira fé, entretanto, não permite qualquer dúvida desta natureza. Ele simplesmente creu na palavra de Jesus e não insitiu mais com Ele; obedeceu ao que lhe foi mandado. Na sequência do relato vê-se que sua fé foi plenamente recompensada.

Com razão, a mensagem bíblica afirma que a fé é evidenciada pelas obras (Tia. 2:14, 17, 18 e 22). A lição faz ver este fato: "Ele [o oficial] se apegou à palavra de Cristo e creu. Mas a fé trouxe consigo uma prova. Ele haveria de agir de acordo com sua fé recém-descoberta? Iria para casa crendo que seu filho viveria, ou continuaria a suplicar que Jesus fosse com ele para casa e tocasse o menino? As ações dele demonstram sua nova fé."

A cura foi expressa em termos de viver, ou ainda, reviver: "vai... teu filho vive" (v. 50). Antes de ser curado, o menino ainda estava vivo, mas agora é dito que ele "vive". Neste sentido, "viver" é um semitismo. O verbo viver é usado em dois sentidos básicos: recuperação da saúde e retorno à vida (II Reis 8:9; I Reis 17:23). É evidente que o evangelista se vale deste detalhe como recurso na abordagem de seu tema da vida.

Quarta – Solução para os problemas da vida

Paulo diz que "a fé vem pela palavra de Cristo" (Rom. 10:17). É notável que tudo o que o oficial teve para se apegar foi a palavra de Jesus. Ele sentiu-se satisfeito com ela; era, para ele, como se Jesus tivesse literalmente atendido seu pedido. A palavra proferida, neste caso, equivale ao ato de Jesus descer e curar o menino. Segundo o v. 53, o menino foi curado na hora em que Jesus ordenou ao oficial que regressasse. Em outros termos, Sua palavra curadora e salvadora "desceu" antes do oficial. Quanto poder na palavra de Jesus!

Prefiro ver a fé do oficial em três estágios distintos, o segundo e o terceiro dentro da fé legítima. O primeiro aparece no verso 48, e refere-se, como já se viu, à fé superficial; o segundo foi a "fé na palavra", que moveu o oficial, como vimos, a obedecer; o terceiro e culminante estágio aparece no verso 53: o crer na palavra avança para o crer definitivo na pessoa de Jesus e a aceitá-Lo; Ele é, de fato, a única solução para os problemas da vida. A lição sugere acertadamente como eles podem ser solucionados.

Quinta – Passos para a autenticidade

O oficial foi a Jesus buscando solução para um problema quando havia outro ainda maior que ele desconhecia; e este era diretamente relacionado com a sua pessoa: faltava-lhe a fé legítima. Não é o que acontece a maioria das vezes conosco? Jeremias 17:9 afirma que não nos conhecemos a nós mesmos. A lição toca bem esse ponto lembrando: "O oficial do rei não conhecia as profundezas da sua incredulidade até que foi confrontado diretamente por Jesus. Muitas vezes nós também estamos inconscientes da nossa pecaminosidade e incredulidade. Como pode você trazer um problema a Jesus quando seu coração o está enganando, quando você nem mesmo sabe que tem um problema?"

Este é o mal de Laodicéia. Ela se avalia com base naquilo que pensa possuir e não naquilo que ignora não possuir. Ela diz: "Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma." Mas o Senhor lhe diz: "Nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu." (Apoc. 3:18).Como que ela pode ser rica e abastada e não necessitar de nada se a verdadeira riqueza está do lado de fora pedindo entrada (v. 20)?

O problema de Laodicéia é sua mornidão (v. 17). Ela não é nem fria, nem quente. Em outras palavras, ela não assume uma vida inteiramente votada ao pecado; mas não assume também uma vida inteiramente votada à justiça. É, com efeito, um terrível problema para o qual, todavia, Deus tem uma solução. Caso a situação de Laodicéia fosse irremediável, Jesus não instaria com ela, oferecendo-lhe as mercadorias que suprirão suas necessidades (v. 18): ouro refinado no fogo para fazer face à sua pobreza; vestiduras brancas para cobrir sua nudez, e colírio para levá-la a ver plenamente, já que sua cegueira não é completa.

A lição estabelece os passos para um encontro autêutico com Jesus, o que traria a solução para todos os problemas, particularmente os de ordem espiritual. Seria bom enfatizar esses passos com a classe.


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