The Passion:
O Evangelho se Fez Cinema.

Por Robson Ramos

 

Ellen G. White condena veementemente a espetacularização das programações da Igreja, insistindo que nada de teatral deve existir em nossas programações. Ou seja, na Igreja não deve haver uma "equipe de produção" que providencia "atrações", musicais ou outras, para o entretenimento do "grande público", que comparece no templo para prestigiar mais um "super evento espiritual".

Igreja não é teatro nem cinema. Quem está à frente, quer pregando, cantando ou ensinando, deve fazê-lo de coração, não como um ator que meramente representa ali seu papel para depois, lá fora, levar vida completamente dissociada da mensagem que apresentou. O maior canastrão do mundo é o ator espiritual, que apresenta "sermões de ficção" em nossos púlpitos.

Congregação também não é platéia. É um grupo de adoradores, os quais, estão ali para juntos prestar culto a Deus, louvando-Lhe e aprendendo de Sua Palavra e não para assistir a solos, duetos, trios e conjuntos, ou performances de oradores que semanalmente se desdobram para superar em versatilidade e criatividade o pregador da semana anterior.

Sem dúvida, à luz de tudo O Que a Sra. White Escreveu Sobre Shows e Dramatizações, a maioria de nós concorda que ela tinha plena razão em insistir que a igreja não deveria se tornar um teatro. Mas o que dizer da utilização de representações ao vivo (peças teatrais) ou gravadas (vídeo ou cinema) na apresentação da mensagem bíblica?

Neste ponto, as opiniões se dividem, pois parte de nós entendemos que EGW condenou o teatro como linguagem e não apenas a hipocrisia da religião fingida e o conteúdo impróprio da programação dos teatros de seu tempo. O próprio editor deste site e autor do presente artigo já se posicionou radicalmente contra o uso de dramatizações na programação da igreja (Professor de Teologia Faz a Sra. White Contradizer-se para Justificar Encenações na Igreja), contrapondo-se a um artigo do pastor Alberto R. Timm (O Uso de Dramatizações na Igreja).

O trabalho diário com a comunicação e especialmente o impacto das cenas terríveis do filme The Passion, ao qual assisti em minha própria casa numa "sessão especial" providenciada por um amigo, obrigam-me a rever alguns conceitos e declarações anteriores quanto ao uso de uma convincente e poderosa dramatização (no caso específico desse filme) como ilustração da mensagem do Evangelho.

Quero desenvolver melhor minha argumentação e impressões quanto ao filme, mas antecipo resumidamente que estou pessoalmente convencido de que Aquele que não se compraz com o sacrifício de animais, mas instituiu o sistema sacrifical do Antigo Testamento como ilustração viva do Plano da Redenção através de Cristo, pode estar se utilizando desse poderoso meio de comunicação, usado especialmente pelas forças do mal para corromper e no mínimo desviar os homens dos temas espirituais, a fim de alcançar os que já não lêem a Bíblia nem se impressionam com sua mensagem, uma vez que pertencem à chamada geração pós-literária, caracterizada pela assimilação de mensagens por meios audiovisuais.

Sim, estou dizendo que fiquei convencido de que Aquele que odeia sacrifícios humanos, mas pediu que Abraão sacrificasse seu próprio filho num altar para impactar a ambos com uma ilustração viva do Plano da Salvação, pode ter inspirado o católico Mel Gibson, acompanhado de uma ex-atriz pornô, e outros pecadores (não-adventistas!) a produzir e divulgar com toda a força da mídia mundial um filme sobre o maior crime de que se tem notícia no Universo: O Assassinato do Filho de Deus, a fim de que se abram portas para a pregação do Evangelho por Seu povo.

O Evangelho se fez cinema e impressionou a Humanidade com a mais trágica história jamais filmada! E nós, ficaremos de braços cruzados, discutindo se devemos pregar ou não a essas pessoas?

Até assistir ao filme The Passion, eu me perguntava como poderia a geração atual ser sensibilizada pelo mero registro textual da morte do Filho de Deus, se a toda hora imagens muito mais impactantes e trágicas de mortes por acidente de trânsito, catástrofes, guerras ou crime são mostradas pelo noticiário das tevês? Essa banalização da morte desvaloriza o relato bíblico do sofrimento de Cristo, pensava.

Agora, com a representação cinematográfica dos horrores da prisão, açoitamento, tortura e crucifixão de "Ieshrrua" (É assim que se pronuncia!) o bárbaro crime contra o Filho de Deus recupera sua dimensão cósmica. Com seu polêmico e lucrativo filme, Mel Gibson resgata a gravidade da injusta, arbitrária, cruel e desumana atrocidade cometida de modo insano contra Cristo.

Convém lembrar apenas que cinema é cinema, com acréscimo de informações extra-bíblicas e uma releitura da história sob a ótica de quem produz o filme. Há também imagens simbólicas, cuja interpretação acrescenta valor semiótico, visionário e apocalíptico ao filme, como o momento em que uma lágrima do Pai cai sobre o solo terrestre e provoca um terremoto que faz estremecer a estrutura do templo judaico, dividindo-o ao meio, abalando até o fundo do abismo, onde o diabo se vê derrotado.

Portanto, não se trata de um registro histórico minucioso, fidedigno em cada detalhe. Mas de um filme que pode materializar diante do espectador a real dimensão do imenso sacrifício a que se submeteu Aquele que foi ferido por nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades.

Nesse sentido, é como se o filme acrescentasse imagem colorida às páginas em preto e branco das Bíblias empoeiradas, esquecidas nas estantes. Então, impactado por essa poderosa mensagem audiovisual, ao final da exibição do filme, o público do The Passion estará provavelmente muito mais sensível e predisposto à compreensão e aceitação da mensagem do Evangelho.

Note bem, não estou recomendando a ninguém que vá ao cinema ou que loque o filme de Mel Gibson para ver em casa. Estou apenas dizendo que Deus pode estar usando esse filme para despertar novamente o debate acerca da historicidade e realidade da vinda de Seu Filho ao mundo e sensibilizar as pessoas quanto à necessidade de melhor se informarem acerca do tema. Talvez, fosse o caso de os aguardarmos à saída do cinema com folhetos e convites para estudos adicionais acerca de Jesus.

Para mim, uma forte evidência de que, em muitos casos, a aceitação de Jesus Cristo como único e suficiente Salvador poderá ser o efeito do filme The Passion, é a recente rejeição do filme tanto por lideranças católicas quanto por representantes judeus. Já querem até proibir sua exibição em circuito comercial no Brasil, com a desculpa de que seria excessivamente violento e anti-semita!

Em minha opinião, o real problema é que tanto a Igreja Católica Romana, que sucedeu ao Império Romano e cuja ostentação, riqueza e poder contrasta-se diametralmente com a mensagem e exemplo do Personagem principal do filme, bem como a comunidade judaica (por culpa inclusive do falso cristianismo representado pelo catolicismo!) e boa parte da pretensa intelectualidade da imprensa mundial são obviamente anti-Cristo por adotarem, promoverem e exaltarem valores contrários a tudo que Ele ensinou e viveu. -- Robson Ramos

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